A CORTESÃ E AS BEATAS

Aquela era uma cidade tranqüila até  Manon Lescaut chegar .Dizem que veio corrida do Rio de Janeiro,onde atuava ,com sucesso,na antiga “pensão”da Arlete  Lìngua de Prata,famosa cafetina da Capital.Uma senhora escandalizada com os gastos do seu marida havia corrido com ela de lá.O certo é que quando chegou a essa próspera e pacata cidade,revolucionou a moral e os bons costumes,mexendo com as cabeças,algumas bem grisalhas,dos homens ricos da cidade.Estabeleceu-se numa rua de canto com Josina,sua criada particular e alcoviteira renomada,numa grande casa com varanda e jardim,para onde,levados pela música e pela expectativa de prazeres celestiais,acorriam os homens sérios da cidade.Por ser um entroncamento ferroviário,os funcionários graduados da Leopoldina,inclusive alguns engenheiros endinheirados,faziam de lá sua segunda casa.O nome Manon Lescaut,ela deve a um literato do Méier,que adorava literatura francesa.Assim,passou de Ursulina das Neves,nome prosaico,ao estonteante nome da cortesã francesa.E ela mereceu;era linda e sábis.Sua casa era discreta.A comida ótima e o whisky,honesto.

Todos pareciam felizes,exceto as esposas,baratas de sacristia,quase todas,para quem o sexo para a procriação,era um dever penoso demais,uma provação que Deus,não se entende porque,resolvera dar ás mulheres honestas.

A mulher do Prefeito,a do Delegado,a do Juiz,a do Diretor do Colegio,todas se reuniram para expulsar esta chaga da cidade.Ainda mais agora,quando o velho e santo Padre Mart inho se aposentara,surdo como uma porta e estava chegando um jovem padre muito versado nas Escrituras e amigo pessoal do Arcebispo.Como a cidade iria explicar ao honrado homem de Deus,a tolerância(sem trocadilhos)com tal presença na cidade.Daí a darem um ultimatum aos maridos para livrarem-se dela.

Chegou o padre,mas,não saiu a marafona para desespero das esposas.

Segu nda de madrugadinha,uma figura alta e magra,bateu na porta lateral da casa da Manon.Veio abrir a criada e o moço  escondido por um longo capote,apesar do calor,perguntou pela “moça”.Queria uma “audiência”.A criada disse que infelizmente não podia atende-lo:estava lá o Sr.Dotô Prefeito.-E na terça?

-Ah,”teuça”é o dia do Dotô Delegado.-Mas,tem a quarta!?

-Dia do “meretrissimo”Dotô Juiz.

-Tá danado!Mas a quinta está livre.Meio de semana...

-Qual!Vem o engenheiro...

Já aflito,o rapaz perguntou:

-E a sexta-feira,senhora?

-Vem o Professor Campos,diretor do Colegio.

Então,sobra prá mim o domingo,vá lá?

-Ôxente,então a patroínha não tem direito a descanso,sô pade!
Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 25/07/2008
Código do texto: T1096708
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