SEMENTE DE MELANCIA!

Por Ulisflávio Evangelista

A vida é realmente incrível! É sério, muitos acabam não acreditando nisso, acham até que sou demagogo. Pois bem, você já imaginou como seria a vida sem... Sei lá... Sem... Melancia! Isso mesmo ME-LAN-CI-A!

Realmente não entendo o motivo da graça, às vezes não damos o devido valor que uma melancia merece. Pensa bem, uma melancia geladinha, docinha... Huumm que delícia, tem coisa melhor pra se comer?

De fato têm sim! Uma melancia geladinha, docinha e sem sementes! Ah, isso é realmente um estupendo de gostosura. Chego até a me lembrar dum grande amigo – primo terceiro do cunhado do Sr. Pedro, meu vizinho do lado direito – que nos convidou para irmos ao seu sítio.

Num belo final de semana, fomos ao sítio. Lá, desfrutamos de toda uma estrutura típica de novela das oito da Globo, tinha quadra de tênis, piscina olímpica, salão de festas e é claro, a tradicional churrasqueira de chão – um buraco onde o gado inteiro é assado bem lentamente – coisa chique mesmo! Então, lá estávamos, Juquinha (nosso filho), Creonice (mulher ou esposa – dependendo do momento) e eu!

Após o churrasco do boi inteiro, foi servida uma travessa de melancia, mas não era dessas travessinhas de cidade não, era coisa grande mesmo, parecia até um armário de porta aberta, era enorme a travessa! Dentro do recipiente – a sobremesa de fato – estavam dispostas como em fila indiana, aqueles pedaços rosados, suculentos de M-E-L-A-N-C-I-A! A coisa mais gostosa de comer...

Juquinha, meu filho, enjoado que só pra comer na casa dos outros, logo que avistou as travessas de melancia, pulou no colo da minha esposa Creonice feito um gato. É que o malandro não gosta de melancia, na verdade ele até gosta, só que tem que tirar pra ele todas as sementes da danada, e como a Creonice e eu às vezes ficamos com preguiça de tirar – visto que o Juquinha sozinho não tira – achamos por bem que ele acabe não gostando mesmo da fruta, tudo pra facilitar o processo.

Pra surpresa dele - e maior a nossa, porque desta forma evitaríamos o pampeiro que Juquinha faria aos anfitriões – as melancias estavam todas sem semente! Eu juro que fiquei pensando durante horas “quem teria sido a boa alma que tirou todas aquelas sementes das melancias”, mas resolvi não falar, sei lá, vai que o Juquinha ficasse assustado sabendo que alguém enfiou o dedo na sua melancia, sei lá eu.

Papo vai, papo vem, estávamos começando a arrumar as nossas sacolinhas plásticas - de mercado mesmo - onde estavam as nossas coisas, quando o Seu Júlio sem mais nem menos retruca:

- Então, o quê vocês acharam?

- Achei bem legal, tirando os mosquitos... – a besta da Creonice vai logo respondendo.

- Tô falando das melancias! – Seu Júlio garante a eficiência de sua pergunta.

- Uma belezura, docinhas que só! – Me adianto pra evitar mais gafes da Creonice.

- Notaram alguma diferença nelas?

- Eu notei, elas não tinham caroços! – Creonice foi mais rápida na resposta.

A conversa é interrompida por um súbito silêncio, na seqüência, todos – inclusive Juquinha – respondem como num uníssono.

- SEMENTE!

- Isso aí. Ah tanto faz, semente, caroço é tudo a mesma coisa!

Outro silêncio.

Após o evento, guardamos as sacolinhas no porta malas do Corcel II, nos despedimos de Seu Júlio como se nada tivesse acontecido e fomos embora.

Confesso que depois daquele dia fiquei arrependido, não era de não ter largado a Creonice não, mas de não ter perguntado “quem diabos havia retirado todas aquelas sementes das melancias”.

Ulisflávio Evangelista
Enviado por Ulisflávio Evangelista em 08/02/2006
Reeditado em 17/09/2007
Código do texto: T109556