ÚLTIMA CRÔNICA DE AMOR
ÚLTIMA CRÔNICA DE AMOR
Marília L. Paixão
Para você desgostar de mim vou falar pela última vez o tanto que te amo. Vou falar que achei lindas as toalhas amarelas que coloquei no banheiro mesmo você não estando lá. Vou falar que enquanto você colhia rosas de um jardim lá longe eu procurava um ramalhete colorido debaixo da árvore que eu própria desenhei e não mais encontrei. Mas tinha ficado o laço preso nas folhas caídas por baixo de um galho quebrado, meu amor.
Vou te levar parra dentro de casa e te guardar num livro. Vou proteger este livro daquelas visitas que pedem livros emprestados. Nada de você eu dou de graça para ninguém. Sequer o cheiro, sequer nenhuma de suas palavras más quando diz que me desconhece. Você também se desconhece. Você também se encontra perdido nas terras de não sei onde enquanto jamais superarei o desejo de ser sua. Eu, a mesma que você não conhece mais.
Quem se conhece neste novo mundo descabido onde as pessoas se comunicam por telas? Telas brancas. Telas cheia de letras. Telas se abrindo em janelas bestas. Telas que se fecham sem olhar a vontade de um ou de outro. É este o mundo em que pensa que alguém também te conhece? As pessoas se identificam ora com um ora com outro. Parece fantástico este mundo entre o sim e o não sem espaço para o mais ou menos. Será que estamos todos despidos de nós mesmos quando aqui entramos ou nos vestimos de tudo que talvez nem somos?
Quantas vezes as pessoas trocam palavras de amor neste jardim branco? Com qual grafite realmente colorimos nosso bem estar sem ser de branco e preto? Idealizamos corações em prata e ouro. Banhamos-nos de um diamante interno enquanto nos fitamos do outro lado aguardando o resultado do brilho. Cadê você? Cada o verdadeiro eu pálido, mesmo que sem brilho? Mas entra-se aqui com intenção de brilhar como fazem naturalmente o sol e a lua. Mas é um brilho de calor que buscamos. Ou é um brilho de outras naves ainda não navegáveis por tripulantes comuns como eu ou você?