AINDA AS CANTIGAS DE RODA

Sambalelê ta doente

Ia com a cabeça quebrada

Sambalelê precisava

De uma boa lambada.

Pisa,pisa,pisa mulata

Pisa na barra da saia ô ,mulata!

Sambalelê está presente e atuante;quase todos os dias me defronto com um deles,pessoal ou virtualmente.Vivem da cultura da infelicidade.Sua maior gloria é despertar compaixã o .Infernizam a vida da família,com suas dores de cabeça,seus humores nada saudáveis,suas má-criações.Carregam a bandeira da infelicidade com o mesmo orgulho de um soldado na parada,e,fazem da doença,geralmente cultivada ou inventada,profissão.Querem dedicação total,mas,precisavam mesmo é de uma boa lambada,como no versinho infantil.

Seus personagens são múltiplos:é a mulher que dedicou a vida aos filhos e,depois passa a infernizar a vida da nora,ao perceber,emfin,a frustração de ter desperdiçado sua vida e assassinado seus sonhos;é o literato que não teve sucesso e começa a jogar pedra naqueles que venceram;é o sacerdote,que queria casar e ter filhos,mas,foi mandado para o celibato pela família,como uma oferenda;ora,são muitos.Pessoas desocupadas,sem um sentido na vida,sem ânimo para a luta,com casamentos mal sucedidos,carreiras que não emplacaram,negócios fracassados,crenças negadas,pessoas que fazem da velhice uma desculpa e da juventude profissão.

Cruzo com Sambalelês todos os dias;eu os detecto na TV,no cinema,no cotidiano das ruas,nas amigas que não se conformam com a idade,nas confissões dos chás da tarde;pessoas que passam pela vida,mas,não vivem;pior,vivem o mesmo dia 25200 dias.Infelizes e frustradas,malfadadas nos vaivens da vida,viram vinagre em vez de vinho,no ocaso da existência;faltou-lhes umas boas lambadas,no tempo certo.

Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 22/07/2008
Código do texto: T1091829
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