O gerente e os empregados
Pense em uma empresa – uma farmácia, por exemplo -, em todas as suas funções: atendimento ao público, almoxarifado, administrativo, serviços gerais, etc. Imagine que o gerente desta farmácia é o responsável pela contratação e demissão de seus empregados, e imagine que, em determinado momento, alguns funcionários contratados começam a chegar atrasados e a sair mais cedo para o expediente, faltam sem justificativas, começam a vender remédios restritos sem receita médica, a cobrar preços abusivos pelos produtos, começam a roubar medicamentos do estoque, começam a roubar o próprio caixa, de modo que estes atos terminem por conseqüência óbvia em um enorme prejuízo para os clientes, para os demais funcionários, e para os próprios donos do estabelecimento, em vários graus de periculosidade – em última instância, a vida das pessoas. O que deve acontecer com estes funcionários? Demissão por justa causa, é lógico. É isso o que acontece com um mau funcionário, e é isso o que acontece com você se você começar a descumprir o contrato assumido com a empresa em que trabalha.
Mas não é isso o que acontece nesta nossa farmácia específica. Você quer saber o que acontece nesta farmácia? O gerente não só permite que os seus funcionários permaneçam com suas atitudes transgredidas como ainda contrata mais funcionários de má índole.
Esta empresa não pode ter um bom futuro, será uma empresa fadada ao insucesso. Temos aí maus funcionários e um péssimo gerente, que, por ser o maior responsável pela contratação e demissão dos funcionários é, no mínimo, negligente e passivamente corrupto – afinal, ele é o patrão deles. Claro que não é o gerente que, a princípio, comete essas infrações, mas é por causa dele que elas são possíveis, pois é ele que permite que as infrações cometidas não sejam punidas, e, como não são punidas, elas se repetem, e é o gerente quem contrata os maus funcionários e não os demite.
Mas você deve estar pensando: Uma empresa assim não existe! E eu digo que é claro que ela existe: é o nosso país! E o gerente dessa empresa, acredite, é você, sou eu, somos cada um de nós!
Um país é como uma grande empresa. E como toda empresa, nem todos podem exercer todas as funções, ou as mesmas funções. Os funcionários, portanto, que queiram exercer cada função desta empresa devem se candidatar à vaga. Sendo admitidos, assumem a responsabilidade de cumprir o contrato da empresa, com todos os seus direitos e deveres legais. Ao descumprirem o contrato, devem ser punidos, e, conforme a infração, demitidos.
O poder público é como se fosse um grande departamento desta empresa. Os empregados são os políticos admitidos em eleição. Os contratantes são os eleitores. E o contrato a ser cumprido são a constituição, as leis, e os demais compromissos assumidos com o cargo. É obrigação do poder público, assumido em contrato ao ser eleito, promover a segurança pública, o saneamento básico, a educação básica, a habitação, a saúde, entre outras obrigações. Ora, se este empregado não cumpre com seus compromissos, ele está descumprindo as normas do contrato, ele está rasgando o contrato, está danificando a empresa, prejudicando os demais funcionários, e toda a comunidade que usufrui de seus serviços.
Mas o cidadão brasileiro é o gerente! Ele pode demitir estes maus empregados e contratar outros, mais competentes e responsáveis, através das eleições. Mas não o faz. Ele é o gerente negligente da nossa loja alegórica. E o resultado desta má gerência é uma empresa corrupta e irresponsável, com funcionários que sabem que não serão demitidos nem punidos, graças ao seu bondoso e pacífico patrão, o eleitor brasileiro.