Um louco polonês
Um louco polonês
Havia em Joaquim Távora, no norte velho do Paraná, um relojoeiro polonês, muito sério, que pensava só em trabalhar nos seus relógios. No ano de 1950. Ele tinha muitos clientes. Só não era muito sociável. Tipo ranzinza, de mal com a vida.Não tinha muitos amigos. Solteirão, de idade já bem avançada. Jiloflec era o seu nome. Não sei se a grafia era essa. Um tipo que nem o Padre Quevedo conseguia definir. Sua relojoaria ficava logo atrás da Catedral. Onde hoje é a farmácia da Rose. Era comum sairmos da escola e passar na relojoaria, só para ver se aquela figura havia mudado. Quando ele queria saber quem era você, ele olhava por cima dos grossos óculos. Jiló, era alto. Cabeleira loira, bem formada.
Sempre sentado, no meio daquela bagunça de peças de relógios. Com aquela lente parecendo um dedal gigante. Ele examinava os problemas dos seus relógios. Não bebia, mas fumava muito. Chegou até a inventar uma chocadeira elétrica.
Como Jiloflec era grande, grande também era a sua bicicleta. Gigante. Bem maior do que as normais da época. Conta-se que ele alimentava um sonho de voar. E vivia sempre pensando como iria fazer. Nosso ”Ícaro” pensou. Pensou muito e um dia começou a trabalhar no seu sonho. A bicicleta fugiu da frente da relojoaria. Ele tinha levado para a sua casa. Que ficava nos fundos. E começou a implantar asas nos guidons da bike. Com penas de ganso e galinhas, lataria, fez duas asas gigantes, parece que até um rabo foi adaptado na trazeira da bicicleta maluca. Jiló só parava nos domingos. Depois da missa, ele saiu com sua bicicleta. Subiu pelo tobogã da Avenida Paraná em direção a cidade de Carlópolis. Lá no alto perto da cafeeira ele parou. A multidão que o havia seguido se aglomerava todos nas calçadas daquela importante avenida. Lá estavam quase todos os 10 mil habitantes de Joaquim Távora. Era um dia de festa.
Nosso Batman, tomou um fôlego. Passou um pó nas mãos. Acho que era breu, para não escorregar. Fez o Sinal da Cruz e ele mesmo deu o sinal de partida. Sem bandeirada, sem nada. Zás! E num instante pedalou, pedalou e veio pela avenida em alta velocidade. Todos achavam e até apostavam que na estrada de ferro ele já estaria no ar. Meus amigos, o pobre homem se estatelou na linha. No meio do povo. Machucou e ficou machucado. Quebrou vários ossos do seu gigante corpo. Ficou vários dias no hospital. Mas não morreu. E assim caminha a humanidade.
Copyrights - Theo Padilha, Joaquim Távora, 19 de julho de 2008