SENTIMENTOS ECONÔMICOS
Conversando com uma pessoa conhecida, assustei-me quanto à enfática resposta, quando lhe perguntei sobre a sua família:
– Vai bem, obrigado. Ultimamente, só convivo no ATACADO, assim o VAREJO fica longe de meus olhos. O VAREJO exige muito de mim, mais participação, mais compromisso. No ATACADO, só dá tempo de se ter CRÉDITO. Já no VAREJO, os DÉBITOS superam sempre os CRÉDITOS logo, o prejuízo sobra para mim.
Após essa conversa, fiquei pensando de como os termos econômicos estão impregnados em nossas vidas. Desculpem-me os economistas, mas chego até a desconfiar que esses termos sejam alguns tipos de vírus patogênicos, altamente contagiosos ao nosso subconsciente. Esses famigerados vírus comprometem nossa sanidade e nos confinam ao isolamento involuntário, distanciando-nos, cada vez mais, do saudável convívio com o outro.
Economizar SENTIMENTOS, será essa a POUPANÇA que deixaremos aos mais jovens?
Teremos um caderninho de CAIXA para contabilizar nossos DÉBITOS e CRÉDITOS de convivência?
Lançaremos nele, o PREÇO de ATACADO e o PREÇO de VAREJO?
Eu lhe ajudo. Você me deve um favor.
Fiquei angustiada, e me pus a pensar em quantas vezes eu vejo os meus vizinhos na semana. Descobri que nem sei se estão em casa, se estão doentes, se estão viajando ou se estão VIVOS. Uma boa desculpa é que eu moro em casa, e casa é um pouco distante uma das outras.
E os amigos? Como vão?
Entre os CRÉDITOS e os DÉBITOS, o meu saldo está no VERMELHO. O VAREJO está muito caro, os JUROS também e o SALDO do meu cartão de CRÉDITO DE SENTIMENTOS tem estado no limite.
Será que assim, será?
Esbanjamos, cada vez mais, no consumo de bens materiais e deixamos a nossa AVAREZA SENTIMENTAL crescer na mesma proporção.
Que tal, fazermos um BALANÇO e abrirmos mão de nosso ATACADO?
Que tal, abrirmos o peito para desperdiçar AMOR, CUMPLICIDADE, AMIZADE e TEMPO pra com o outro.
Não somos peças contábeis. SOMOS GENTE e como GENTE esqueçamos os números e entreguemos à VIDA sem ECONOMIA, simplesmente.