O BRASIL QUE EU QUERIA

Com “As Bucólicas”de Virgilio,debaixo do braço,parti,no último fim de semana,para a fazenda ancestral dos meus avós paternos,no interior da Bahia.Um passeio ao passado,para tomar um banho de civilização,já que milito nesta selva de pedra,há bem uns 50 anos.De origem campestre,como Virgilio,só me sinto bem em casas grandes,isoladas,pois amo o silencio.Criada com certos valores e rituais, detesto gente vulgar e mal educada,fuxicos,dissemedisse,cobranças indevidas,preconceito e patrulhamento;fui ensinada a respeitar as pessoas,assimilar diferenças,cumprir horários e cuidar da minha vida.Uma vez,passando numa ruela,com minha mãe,vi um casal atracado,aos beijos,a moça com a saia levantada;mostrei para minha mãe:-olha prá isso!e,ela,:-olhe,seja lá o que estejam fazendo,não é da sua conta.Aprendi!

A fazenda,hoje,desdobrada pelos herdeiros,formou um arruado,onde residem parentes,próximos e distantes,pois,na roça,não existe a família nuclear,pai,mãe,filhos,e,sim,a família bíblica,irmãos,primos de vários graus,parentes,aderentes,antigos empregados e agregados,quase um feudo,e,se um é incomodado,todos se incomodam;a solidariedade é a uma religião.Fui a inúmeras casas,de ricos e pobres,parentes e amigos,revi a velha babá de meus filhos,quase uma irmã,amiga e companheira,e,fiquei contente ao ver todos proprietários,morando em suas casas,humildes ou suntuosas,bem alimentados,com saúde,um posto de saúde funcionando,escolas ensinando,em frente á antiga casa grande de meu pai,foi feita uma quadra de esportes,onde garotos esperançosos,sonham com a fama,quase todas as casas com TV e som,algumas com computador,móveis novos,transporte para os escolares que moram distante,vários moradores motorizados,enfim,pessoas felizes e despreocupadas,apesar da seca,pois uma barragem construída no Rio Itapicurú leva água encanada a todas as casas.A maioria tem celular,embora haja orelhões espalhados por toda a aldeia.Ruas limpas e seguras;a cadeia do lugar foi desativada por falta de hóspedes.Andei por várias fazendas de parentes,a pé,respirando o ar puro que vem da serra,sentindo o cheiro gostoso das umburanas e alecrim de vaqueiro,impregnando tudo.Bois mansos passavam por mim,numa paisagem bíblica.As igrejas católica e presbiteriana conviviam juntas e em paz;um deus não queria ser melhor que o outro.Observando tudo isso,mais o carinho que as pessoas têm comigo,assim que cheguei aqui,comuniquei a meu marido:um dia,não muito distante,morarei lá;sentarei sob a copa do juazeiro centenário,que viu chegar meus avós em 1700,e,apreciarei o sol se por na serra,a lua nascer e curtir o Cruzeiro do Sul,que andava sumido da tela da minha memória.Quando for chegado o dia,repousarei em paz no campo santo onde já dormem meus antepassados,em paz comigo e com a vida,certa de que merecerei o epitáfio que escolhi para mim:COMBATI O BOM COMBATE!

Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 12/07/2008
Código do texto: T1076555
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