O RELÓGIO E O QUEIJO

O RELÓGIO E O QUEIJO

Marília L. Paixão

Eu já cansei de repetir para eu mesma que este negócio de escrever depressa como quem está esperando um trem que não pode perder de jeito nenhum, não dá certo. Principalmente quando a gente distrai e o trem acaba passando quase em cima da gente.

Era melhor eu ter dito que não e ter dedicado mais tempo á tal da pintura do meu cabelo, afinal, aparência é um negócio também muito importante. Mas vamos lá! Já taquei a tinta no cabelo mesmo! Eu bem que estranhei a cor do trem enquanto mexia, parecia que escurecia muito mais rápido que de costume. Será que misturei o trem certo? Certo ou errado eu até que procurei por outra, mas como não encontrei foi à duvidosa mesmo.

Eu sou assim. Com coisas que não sou profissional eu apenas arrisco. Eu sempre penso: se não der certo, dará errado, mas de qualquer forma, o que der, deu! Sou assim com muitas coisas. Igual quando me sento num salão para cortar o cabelo e a moça pergunta:

- como vai querer o corte?

Bem dentro de mim eu tenho sempre a mesma resposta:

- não sei. Só quero ficar mais bonita. Como se ela fosse conseguir fazer alguma mágica com as mãos, tesoura e meus cabelos.

Enquanto eu ainda procurava o trem que não estava dentro da caixinha com a tinta. Será que eu tinha usado com a outra tinta que experimentei da última vez? De uma coisa eu tinha certeza: sem o outro produto de misturar com a tinta não teria jeito de pintar o cabelo. Foi aí que o telefone tocou. Não queria atender, mas pensei que poderia ser alguém aqui de casa e eu ia perguntar o nome do líquido certinho para eu não misturar nada errado.

- Com quem falo? Perguntou lá uma voz meiga.

Não era ninguém aqui de casa.

- Marília.

Tentei dar um tom normal à minha voz arrependida de ter atendido.

- Marília, você foi sorteada aqui na nossa loja e vai ganhar um relógio personalizado.

- De onde fala mesmo? Ganhar o quê?

A moça repetiu relógio e imaginei um relógio de plástico com o meu nome. Eu gosto dessas coisas. Se não puder usar posso pendurar em canto da minha casa. Me interessei.

Quando a coisa é pequena eu não estranho. Afinal eu já ganhei um bolo num bingo, já ganhei um frango e até uma bolsinha. Não teria motivo para duvidar de ter ganhado um relógio personalizado. Eles vivem mesmo pedindo para a gente preencher cupom em lojas. Mas ela disse loja de queijo. Lembrei mesmo de ter ido lá e foi uma amiga minha quem preencheu o cupom para mim. Não me sobra muito tempo para preencher essas coisas.

Tava gostando da idéia do relógio. Eu adoro lembrançinhas. Mas não acabou. Ela disse que junto com o relógio eu ia ganhar cinco fotos ampliadas e que era para eu levar cinco mudinhas de roupas para eu me trocar lá. Aí começou a complicar. Mas combinei com a moça um horário bom amanhã. A primeira hora que ela falou eu concordei. Queria mesmo sair do telefone e resolver o problema do meu cabelo.

Fui lá para o espelho misturei um trem na tinta e comecei a passar pensando na moça e nas mudinhas de roupa que ela pediu para eu levar. Talvez ela ta pensando que ligou para uma moça de 17 anos. Imagine eu chegando lá com cinco mudinhas de roupa prontinha para posar para cinco fotos ampliadas. Pensa bem?! Que tal se em vez de levar cinco mudinhas de roupas eu levar cinco mudinhas de caras novas? Uma cara de dez anos atrás, outra de vinte anos atrás. até chegar nos 17. Ah! Que bobagem. Com 17 anos eu era tímida que nem se me amarrassem e me colocassem uma máscara do zorro eu não posaria.

Por falar nisso, dependendo do resultado dessa tinta neste cabelo hoje nem sair para ir trabalhar eu saio, quanto mais ir buscar um relógio e posar para cinco fotos. Já sei! Vou levar minha amiga que preencheu o cupom. Vou dizer a ela para ela arrumar uma malinha com cinco mudinhas que eu fico satisfeita com o relógio e dou as fotos para ela. Se a moça colocar algum obstáculo, agradeço o sorteio deixo lá o relógio e ainda compro outro queijo. Será que já secou a tinta do meu cabelo?

----------------------- ZÉLIA MARIA FREIRE PEDIU QUE EU ESCREVESSE ALGUMA COISA PARA ELA LER. EU DISSE: AGORA NÃO POSSO, O TEMPO É A CONTA PARA EU PINTAR MEU CABELO. E FOI ASSIM QUE SAIU ESSA AÍ...

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 04/07/2008
Reeditado em 06/07/2008
Código do texto: T1064754
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