Ao passar pelas ruas da "Quinta" hoje cedo eu vi.

Crianças acordando com a claridade do sol em seus rostos magros e corpos franzinos que sem o café da manhã, brigavam por mais uma rodada de cola, e vi o ópio descendo em suas narinas sujas invadir seus corações, seus cérebros e suas mentes. Pobres crianças inocentes, muitas delas nunca chegarão a ser gente.

Mas o que pensam os políticos, os empresários? Claro! Os da primeira classe pensam na próxima campanha, os da segunda com certeza estão preocupados com a queda da bolsa de valores e com a alta do dólar (veneno mais caro, o verde mais importante que a Amazônia). Tudo não passa de puro egoísmo de um sistema capitalista sem coerência que tapa os ouvidos para não ouvir os lamentos das tristes tardes, nelas jovens prostitutas vendem seus corpos por aniquilados níqueis sem valor algum que muitas vezes não pagam um sanduíche dormido. Faço coro com os que pedem um controle a natalidade mais eficaz, pois muitas vezes ali, são mães e filhas(os) na prostituição, sempre o mais novo levado pelo mais velho que não tem o direito de obter o lucro ingrato pela venda do seu próprio corpo.

Onde estão os culpados por estas vidas miseráveis e quem no futuro irá pagar por isso? Todos são culpados e todos nós pagaremos de uma forma ou de outra. No futuro teremos mais traficantes e mais seqüestradores e muito mais crianças pelas ruas cheirando cola. Para um país capitalista, é mais prático investir em carros blindados, companhia de seguranças humanas; armas de última geração, e por aí vai. Tolice! Fazer cidadãos seria a solução, talvez não a curto prazo, mas para um futuro que poderá não estar tão longe assim. Nem sempre o óbvio é o caminho que traz lucro a curto prazo e assim continuam os atravessadores de crianças se proliferando tanto para a prostituição quanto para trabalho escravo (o que não é difícil achar). Falta coragem política, coragem minha e sua de cobrar dos nossos representantes políticos, mais dedicação e investimento em nossa gente. Brasileiros, que nascem e morrem ao sol sem nunca conhecer o abrigo de um lar.

Hoje a Quinta da Boa Vista já não é tão bem vista. Sua bela paisagem é testemunha da canção inaudível silenciada no choro engasgado de seres que correm contra o tempo, e que na verdade não tem mais nada a fazer, a não ser, esperar cheirar, dormir e acordar. Pobres crianças que provavelmente não chegarão aos vinte anos, e alguns, que por ventura passarem dessa idade, serão velhos desdentados, ainda dormindo nas calçadas.

Um dia perguntou o poeta.

“Que País é Esse?”

Lili Ribeiro

06/05/08