NÃO É FACIL FICAR NUA... mas eu fiquei...
Nunca imaginei que um dia faria isso. Na infância era muito “espevitada”, como dizia minha mãe, mas recatada. Papai não nos deixava usar shorts ou qualquer outra roupa curta, na adolescência era muito tímida, e tinha problemas com meu corpo. Não me sentia a vontade nele, parecia não me pertencer. Usava roupas largas. Geralmente estava de jeans e camiseta, números sempre maiores que o meu.
Vencida a timidez, comecei a lidar bem com meu corpo. A gostar de mim. Aceitar minhas limitações e valorizar meus pontos fortes. A boca grande que sempre me incomodara passou a ser aceita e bem explorada. Como adorno, adotei o sorriso. Os cabelos cacheados, que eu detestava, foram assumidos e ficava alternando entre curtíssimo e meio-longo. Descobri que gostava demais deles. A altura resolvi usando saltos mais altos que o bom senso aconselha, mas encaro as rasteiras numa boa.
Gostando de mim e de meu corpo não vi problema nenhum em, finalmente, me despir inteira. Não foi fácil. Confesso que as primeiras tentativas foram frustrantes. Eu não ficava a vontade. As palavras se atropelavam. As lágrimas embaçavam minha visão. A timidez voltava. Tentei uma vez com um profissional. Não funcionou. O problema era comigo. Mas finalmente aconteceu. Virtualmente. Sentindo que não teria coragem de fazer ao vivo usei a tecnologia a meu favor. Despi-me inteira. Sabia que tinha que ser com você. Comecei timidamente, aos poucos fui ficando a vontade e pela primeira vez fiquei completamente nua. Você conseguiu arrancar de mim até a “última peça”. Estava diante de você uma mulher completamente despida. Sem segredos. Sem medos. “Aquele segredo” guardado durante anos desabou sem culpa, sem choro, sem vergonha.
Eu fiquei nua. Minha alma estava inteiramente exposta para você. Todas as janelas estavam abertas. Nada havia em mim que você não conhecesse. Quando nos encontramos você me acolheu em seus braços. Não falou nada. Senti-me agradecida e protegida. O “meu problema” estava, agora, em definitivo superado. Enterrado. Era a primeira vez que eu o verbalizava. Já conseguira superar, escrever sobre, mas falar era ainda uma barreira intransponível, até conhecer você.
Senti-me leve depois. Tirava de mim um fardo muito pesado que carregara sozinha por muito tempo. Como é bom desnudar-se diante de um olhar sensível, inteligente, afetuoso e acima de tudo humano. Despir-se sem culpa, de seus “monstros e fantasmas”, mostrar-se sem nenhuma máscara. A sensação de liberdade é plena. Esta é uma nudez que não pode ser castigada. A minha foi premiada - com minha paz de espírito.
E sabe o que mais? Nem precisei tirar a roupa para ficar nua diante do homem que amo. Eu desnudei minha alma. E a cena fotografada naquele momento ficou para sempre gravada em nossa memória, como a mais bela tela já vista por nossos corações – a confiança e a cumplicidade de dois seres que se amam, se conhecem e se respeitam.
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