Agora

“- Vocês perceberam, já pararam para pensar que esta é a década das nossas vidas !”

Essa frase marcou muito bem aquele dia, aquele Sábado a tarde onde amigas se encontraram e resolveram, juntas, botar conversa fora. Era uma mistura um tanto quanto revolucionária, 20 anos de sonhos, copos de bebida, laços de amizade, olhos brilhantes e mais, ao fundo tocando Elis.

Fora sábia a acepção daquela minha amiga, de fato estávamos nós, em pleno sábado, todas lá em casa, sentadas numa mesa, olhando pela janela aberta aquele céu. O mesmo céu dos nossos heróis, dos nossos ídolos, dos nossos pais. Aquele céu vermelho que para as nossas ideologias clama por justiça, que se indigna diante do mundo. Estávamos lá nós, dizendo frases do Che, fazendo chacota uma com a outra, falando de política, de faculdade, de ficantes, de futuro.

“... essa é a década das nossas vidas”, decerto essa frase ficou latejando em cada um ali. Era de fato a época do plantar hoje para colher depois, do sacrificar finais de semana sobre os livros abertos. Era época de brincar de comunista antes de ganhar dinheiro do mundo burguês. Era o tempo de conhecer muitas bocas, conversas ao pé do ouvido, antes de escolher uma só para o resto da vida. Era o tempo de se sentir cidadão do mundo, livre, leve e solto, antes de sentir-se preso de vez.

Não só o álcool descia de garganta abaixo naquele dia, bebemos o silêncio após aquela frase, bebemos nossos 20 anos, nossos períodos da faculdade... a década da nossa vida.

Essa tarde de hoje, acho que deve ser umas cinco e meia, mais ou menos, me fez lembrar daquele dia. Do bom que é uma tarde de sábado, com amigos ao redor, tocando Elis ao fundo e vinte anos de idade.

Madalena Sofia Galvão Viana
Enviado por Madalena Sofia Galvão Viana em 27/06/2008
Código do texto: T1054414
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