PARA VOCÊ

PARA VOCÊ

Não sei ao certo quem é o pai do "Pragmatismo", se Charles Peirce ou William James. O certo é que, por conta de uma alma inquieta esse "braço" da Filosofia me interessa, a partir de um artigo que li de autoria de Pierce, "How to make our ideas clear "(Como tornar claras nossas idéias (1878)

Para um pragmático, o conhecimento de algo deve "considerar as conseqüências práticas prováveis como resultantes necessariamente da verdade da concepção" (Pierce)

Também andei lendo o filósofo norte-americano William James (1842/1910), Pragmatismo e outros trechos, onde estão transcritas oito conferências dadas pelo citado filósofo. A oitava trata do tema Pragmatismo e Religião. Nessa última conferência foi lido pelo conferencista versos do poema "Para Você" de Walt Whitman, explicando que o "você", naturalmente, significando o leitor ou o ouvinte do poema, quem quer que ele ou ela possam ser.

Pelo prisma do pragmatismo, segundo William James, cabe duas maneiras de encarar o poema: a monística, significando o caminho místico da pura emoção cósmica; a segunda o meio pluralista, que pode significar sua lealdade às possibilidades dos outros a quem você admira e de quem você gosta, de maneira que você está disposto a aceitar a sua própria vida miserável, pois é companheiro daquele.

Eis o poema, que é fino e comovente e cada leitor que o interprete à sua maneira:

"PARA VOCÊ"

Seja você quem for, coloco minhas mãos em você, para ser meu poema:

Sussurro com meus lábios próximos ao seu ouvido,

Tenho amado muitos homens e mulheres, mas a nenhum amei melhor do que a você.

Tenho sido lento e mudo;

Devia ter ido para você há muito tempo;

Não devia ter revelado nada, senão você, não devia ter cantado nada, senão você

Deixarei tudo e viverei e farei os hinos de você;

Ninguém compreendeu você, mas eu o compreendo;

Ninguém fez justiça a você - você não fez justiça a você mesmo;

Ninguém achou que você não é imperfeito - somente eu não encontro imperfeição em você

Eu podia cantar glorias e grandezas a seu respeito;

Você não tem sabido o que você é - você tem dormido toda a sua vida;

O que você tem feito logo retorna como zombaria

Mas as zombarias não são você;

Debaixo delas e dentro delas, vejo você oculto;

Procuro você onde nenhum outro já procurou você.

Silêncio, mesa de estudo, a expressão petulante, a noite, a rotina do costume, se isso esconde você dos outros, ou de você mesmo, não o esconde de mim;

A face escanhoada, o olho irrequieto, a aparência impura, se isso interrompe os outros, a mim não interrompe;

O traje atrevido, a atitude deformada, embriaguez, avidez, morte prematura, tudo isso deixo de lado.

Não há qualquer coisa em homem ou mulher que não se ajuste em você;

Não há virtude, beleza, em homem ou mulher, que não fique bem em você;

Nenhum prazer esperado pelos outros, mas um prazer igual espera por você.

Seja você quem for! Você mesmo, de qualquer modo!

Essas pompas do leste e do oeste são insípidas, comparadas a você

Esses campos imensos - esses rios intermináveis - você e interminável e imenso quanto eles;

Você é ele ou ela que é o senhor ou senhora sobre eles,

Senhor ou senhora no seu próprio direito sobre a natureza, os elementos, a dor, a paixão, a dissolução.

Os grilhões, caem de seus tornozelos - você sente uma infalível suficiência;

Velho ou moço, macho ou fêmea, rude, baixo, rejeitado pelo resto, o que quer que você seja vale por si;

Através de nascimento, vida, morte, enterro, os meios são providos, nada é poupado;

Através de ódios, perdas, ambição, ignorância, aborrecimento, o que você é, escolhe o seu caminho.

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 27/06/2008
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