Tempestade
A chuva molha a cidade já faz algum tempo, começara fininha, mas agora ganhou fôlego. Por instantes pensei nas mil coisas que tenho que resolver antes que o dia termine, mas me falta coragem de enfrentar o temporal.
Numa tarde como essa não dá vontade de sair do quarto. Na verdade, o mundo que circunda essa janela daqui do lado parece nos empurrar pra dentro de casa.
Sabe, o que de fato eu queria agora era deitar do seu lado e esperar a chuva cair lá fora. Sentir frio e medo dos relâmpagos e trovões abraçando você.
Era isso. Esperar a chuva cair comendo biscoito, dando um beijinho aqui e outro ali, sentada de pernas cruzadas, na posição de lótus, contando o meu dia a você. Sei que a gente tem muita coisa para se preocupar, principalmente com o futuro. O futuro que vai chegar e mudar as coisas de lugar, afinal, ninguém sabe dele. Talvez não tenhamos tempo pra parar em tardes como essa. Cinza, com muito vento e aparência de chuva. Tardes assim só é bom pra ficar pertinho.
É verdade que diversos compromissos e responsabilidades nos esperam, principalmente numa quarta-feira, bem no meio da semana! Mas hoje, principalmente hoje, nessa tarde feia eu queria você aqui do meu ladinho. Do lado direito do sofá implicando, mexendo comigo. Ficando em silêncio e deixando ele falar por nós dois.
Se escurecesse logo e faltasse energia, a gente procuraria lanterna ou vela e fósforo, o telefone não funcionaria e os dois meninos de ontem, eu e você, iam parecer adultos em casa em plena tempestade.
Nesse momento, agora, queria você aqui. Por que você não vem?