MEU AMOR, EU TRAÍ VOCÊ

 

                Sou do tipo fiel. Que acredita em amor, cumplicidade, fidelidade. Mas não sou perfeita e aconteceu. Quando nos conhecemos prometemos fidelidade. Lealdade. E sempre fiz tudo exatamente como combinamos. Até aquele dia. Confesso que você foi o grande responsável. Eu estava lá, preparando nosso almoço. Tudo como você gostava. Toca o telefone. Era você avisando que não viria almoçar.

                Não pensei duas vezes. Confesso que já me sentira tentada algumas vezes. Mas resistira. Naquele dia fui mais corajosa. Decidi que iria até o fim. Fui até a cidade. Logo encontrei o que procurava, sabia exatamente onde buscar o que queria. Dei mais uma olhada. Calculei os riscos. Passei delicadamente minhas mãos sobre sua pele. Senti seu cheiro. Imaginei seu sabor. Pensei em desistir. Senti uma lágrima descer em meu rosto. Seria emoção?

                Foi maravilhoso. Curti intensamente aquele momento. Como eu aproveitei fazer aquela travessura! Você nunca iria descobrir. Cada vez que sentia o sabor proibido parecia ir ao céu. Minha boca buscava avidamente aquele gosto tão desejado e condenado a nunca entrar em nossa casa. Ainda estava em estado de graça quando você chegou. Mudaram o cronograma e você veio sem avisar, parecia estar advinhando que eu fizera algo errado. Senti-me culpada. E agora, eu conto ou não? Decidi não contar. A culpa foi sua. Foi você que ligou avisando que não vinha.

                Coloquei a mesa. Fiz seu prato. Esperei seu comentário habitual. Ansiosa olhava você. Quis contar. Controlei-me. Tive medo de sua reação. Terminada a refeição você disse que estava uma delícia, como sempre, mas tinha algo diferente, especial. Tinha. Era o sabor de minha traição. Eu caprichara. Afinal era a primeira vez depois de muitos anos de fidelidade. Eu colocara cebola (que você odeia e eu jurei nunca colocar em sua comida) no molho de nossa lasanha. Tomara que você não leia esta crônica. 

* Imagem pesquisada na net http://www.sensibilidadeesabor.com.br/jantarvpp.html

Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 22/06/2008
Reeditado em 26/06/2008
Código do texto: T1046163
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