Crônica do Saci - (Estórias)
Estórias
O “Saci do Paranai” citado na musica Estórias, tem uma conotação político social que visa a nos embrenharmos pelas coisas que nos dizem respeito, que nos afeta a todos e que por ser já um fenômeno cultural tão enraizado, não mais nos damos conta de alguma anormalidade nisto tudo.
Vejamos: A figura do Saci tem uma denotada alusão ao nosso folclore, das estórias que ouvíamos e que permeavam as antigas infâncias e porque não, muitas pessoas já adultas o consideravam um ente real e travesso à fazer algumas malvadezas, por vezes oculto ou até saltitante em alguma encruzilhada, ou trançando crinas de cavalos durante a noite
A conotação dada aqui ao moleque Saci é a do anacronismo em que vive toda esta gente, e toda a nossa região, por que não dizer toda nosso povo brasileiro, gente esta que adora modernismos tecnológicos e lingüísticos, mas que se submete a um imobilismo político e social sujeita a pratica seculares de exploração, dominação, expropriação, enganação despudorada e sistemática e que nos dias hoje já sem nenhum cuidado com dissimulações.
O “Boitatá” é este jeito moderno de viver, o chamado progresso insensível e insaciável a devorar tudo de forma indiscriminada, que assusta e que atropela os incrédulos e os de bom senso, os que não acreditam que se tenha que alterar e destruir nossas riquezas naturais, nossos valores (nossas matas, fauna e os rios) seja fazendo represa, retirando as madeiras, plantando Pinus ou revolvendo morros em busca de pedras e metais preciosos, jogando seus dejetos e excrementos da riqueza acumulada, para perenizar com pobreza e ou doenças os leitos e margens dos rios, que passada a fase eufórica, o que sobra, são os estragos para uma geração já sem futuro, tentar resolver e se lamentar pelo deslumbramento, egoísmo e falta de compromisso com a sua própria espécie, de que foram vitimas seus antepassados.
Ao “Curupira,” invoco a figura desta gente pobre, do caboclo nosso as beiras dos rios ou embrenhados nas matas em seus ranchinhos rústicos. Sobrevivendo com um mínimo de recursos onde tudo é demorado e distante, toda sua riqueza, são as coisas dispostas pela natureza, meio de locomoção e ferramenta aqui representados no porco do mato, na corda de embira atada a irara, que é o pouco tudo que tem, presenteado pela natureza e é obrigatoriamente o suficiente para seguir sua vida, distante da atenção das autoridades e da consciência coletiva , relegado a sua própria sorte ( se é que isto é sorte ), simplesmente ignorado,
Sobre o “lobisomem”, temos a imagem da covardia que hoje nos acomete, quando seguro em seu reduto e protegido pela noite deixa aparecer sua face tenebrosa e dúbia, uivando sempre escondido nas sombras, sem nunca aparecer durante o dia, relegando este ato ao homem comum que não se expõe, não se arrisca por ter muita coisa a perder; ficando sua atuação relegada a esparsas bravatas que não são mais levadas a serio.
A “Mula sem Cabeça” já tem uma representação mais voltada para o lado político, embora também possa ser usado apenas como figura folclórica, Ela representa o nosso povo, que por comodismo, alienação e ignorância, deixa se levar por promessas fáceis e oportunistas, que os alimenta de tempo em tempo, com adulações e falsidades para poder substituir a falta de proposta e projeto, que vise o engrandecimento, crescimento e melhoria do ser humano que existe em cada curupira dentro dessa gente.
A “moça nua”, galopando a mula sem cabeça simboliza aqueles que estão montados nos cargos de dirigentes públicos, os políticos, e uma minoria intelectual com certo grau de consciência, mas casuisticamente omissa, que apenas coadjuva esta cena e que desvia a atenção de algo mais serio, feio e tenebroso, desfilando desvairada e irresponsavelmente deslumbrada com sua condição privilegiada, mas amorfa e distante da realidade, sem nenhuma preocupação ou conhecimento da importância histórica em que foram alçadas, exatamente para fazerem diferença e não fizeram, apenas se fazem comuns, desperdiçando oportunidades históricas. Cuidam apenas de si mesmo.
A chamada de atenção para as coisas simples, naturais e belas que se encontra por aqui no Vale do Ribeira, mais exatamente nesta pequena e bucólica cidade, dizendo ao visitante para aproveitar estas belezas naturais, diz também para estar preparado para não se chocar com o atraso cultural e econômico, este modo de viver na inópia, pois aqui tudo isto é natural, Já que é aqui onde mora o Saci. Tornando, infelizmente qualquer aberração muito natural, nesta terra de “Sacis”.
Urano Sousa 9208