100 ANOS DA IMIGRAÇÃO JAPONESA

SAUDAÇÃO À PROFESSORA MARINA MARIÊ ARAMAKI

(A professora Marina, filha de japoneses, pronunciou conferência sobre os 100 anos de imigração japonesa para o Brasil, no dia 16 de junho de 2008, em sessão especial da Academia Sergipana de Letras)

Senhora professora, seja bem-vinda.

O Brasil é um país que sempre deu e continua dando boas-vindas aos imigrantes e também aos turistas de toda parte do mundo.

Apesar de o tema ser o Japão, começarei me referindo aos Estados Unidos da América do Norte e, também, ao Presidente Lula que, neste semestre de 2008, com a sua maneira peculiar, teria dito em um momento de certa impaciência, que telefonaria para o colega norte-americano e pediria para deixar o Brasil se desenvolver economicamente, pois o país espera há 25 anos pelo progresso e não desejaria ser interrompido pela potência. Disse mais, que se Bush quisesse umas lições de como sair da crise, convidasse o Governo brasileiro para demonstrar como se faz um PAC.

No recente episódio da crise nos aeroportos da Espanha, houve um pronunciamento de Lula em que disse sem papas na língua que os europeus se esqueceram de quando os brasileiros receberam os pobres de lá. A Espanha parece ter melhorado o comportamento e ainda bem que Zapatero venceu as eleições. Na Itália, Berlusconi quer mandar todos os imigrantes de volta para casa.

Segundo as suas informações, professora, quando os primeiros japoneses estavam de partida para o Brasil, há cem anos, o Imperador foi categórico em recomendar que soubessem respeitar o Japão e se não o fizessem, aqui mesmo poderiam ficar e morrer. Permita-me dizer que as palavras do Imperador foram duras, fortes, um bota-fora, um educado enxotamento. No Brasil se diria “Caso não dê certo, voltem, aqui é seu lugar, sua casa, seu país. Nós estaremos de braços abertos esperando vocês porque o bom filho retorna ao lar.” De qualquer sorte, é bonita essa maneira de ser do japonês, sua cultura, disciplina, ética e comportamento.

Infelizmente, por aqui, nós somos uns desinformados quanto ao outro lado do mundo. Há muitos anos atrás tomamos conhecimento de alguma coisa do Japão quando passava nos cinemas a fita estrelada por Marlon Brando, Sayonara. E ficamos nós, jovens daquela época, discutindo se seria a pronúncia correta a oxítona ou a paroxítona. Às moças interessava mais era Marlon Brando, lindo e bem feito de corpo. Nunca temos certeza do que é japonês e do que é chinês, apesar de sermos bons conhecedores de mapas. Entendemos mais do terreno do papel do que do chão da Terra.

Somos confundidos pelo cinema e pela mídia que repuxa os olhos e mistura Japão e China, sem a menor cerimônia. Quanto às pedagogas, essas bem conhecem e utilizam os origamis.

Depois do WTC/11th September, ficamos mais próximos dos iraquianos. Falamos muito sobre as gueixas como por aí falam do futebol e do samba. Gostamos do colorido, e das sedosas roupas japonesas. Gostamos de sentar no chão, costume herdado dos índios brasileiros.

A Educação Básica tradicional nos ensinou muito mais sobre a Grécia e Roma do que mesmo sobre o Brasil e o pequeno Estado de Sergipe. Não conseguíamos achar graça alguma em José Bonifácio, Floriano Peixoto, José Siqueira de Menezes e todos os outros perante a figura imponente de Júlio César, o Imperador romano. E Cleópatra, por mais que historiadores digam que era feia, para nós ela era a cara, encarnada e esculpida de Elizabeth Taylor. Pensando bem, não sei que temos nós ocidentais de especial, pois até sem querer, ocidentalizamos o Oriente.

Ouvi apenas uma vez alguém cantar em japonês. Muito lírico e delicado como qualquer coisa que nos mostram do Japão. Eu que amo a poesia, nada conheço sobre a poesia japonesa, sequer um nome de poeta.

Hoje não faz sentido algum viver apegado apenas à cultura ocidental clássica. Estamos ligados ao mundo inteiro pela tecnologia. De repente, países “nunca d’antes” acordados, abrem bastante os olhos em todas as direções.

Os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais _ da Educação Brasileira), apesar da propriedade e da modernidade didático-pedagógica que veicula, ainda fica a dever a esses aspectos da globalização, do capitalismo e do fantástico mundo digital.

Nossos estudantes precisam, não apenas para ontem, mas para muito tempo atrás, de conhecer o mundo, ler o mundo, como o preconizou Paulo Freire.

O japonês lê o mundo e está de olhos bem abertos, por isto ganha espaço na tecnologia e na economia.

O mundo acompanha a potência norte-americana tremer em suas bases econômicas. A Europa ainda teima em pensar antigo, desenvolvendo e conservando atitudes de xenofobia e recriando o nazismo. Enquanto isto, o japonês e os outros Tigres Asiáticos trabalham, trabalham, trabalham.

Do período da escravidão no Brasil veio a inspiração para uma canção cujo refrão é “Trabaia, trabaia, nêgo”. Precisamos compor uma canção sobre essa disposição do japonês, que também sofreu em terras brasileiras, e homenageá-lo pela sua capacidade de trabalho e por não ter decepcionado o Imperador e a rica pátria Japão.

Muito interessante a informação que a professora nos deu sobre alguma semelhança da situação inicial do japonês no Brasil com a dos africanos. Não fazendo comparações históricas, mas observando o quanto a existência de limites desumaniza os indivíduos que não se reconhecem irmãos. O possível lado bom da idéia de globalização está sendo destruído por teimosos tradicionalistas que vivem no passado, não porque o respeitam, mas porque lhes interessa.