O HOMEM É A MEDIDA DE TODAS AS COISAS

Se diante de nuvens pesadas e mar bravio eu disser: "navegar é preciso, viver não é preciso", não darei o crédito da frase ao saudoso deputado federal Ulisses Guimarães, que costumava dizê-la nas suas pregações cívicas, nem tampouco ao poeta Fernando Pessoa, que a usou num poema épico de exaltação aos navegantes portugueses; citarei sim, como autor o general italiano Pompeu (106-48aC) que, na condição de encarregado de abastecer Roma com o trigo siciliano, viu-se diante de uma tempestade quando a sua frota se encontrava no Estreito de Messina, (que separava a Sicília da Itália) e sabedor que Roma já estava sofrendo o desabastecimento do trigo, dirigiu-se aos seus tripulantes e proferiu a célebre frase: "navigare necesse; vivere non est necesse". E seguiu navegando mar adentro, afrontando o perigo.

Se diante deste tresloucado governo eu disser: "tenho medo", não darei o crédito da frase a atriz Regina Duarte que, na iminência da vitória do presidente atual, a proferiu por este Brasil afora ; citarei sim, como autora a poeta Maria Mercedes Corraza, que versejou lá pras bandas de Bogotá, pelos idos de 1984: " oidme bien, lo digo a gritos: TENGO MIEDO".

Mas vamos ao que interessa: disse o sofista Protágoras (487-420 a.C) que "O homem é a medida de todas as coisas". O escritor Jostein Gaarder (O Mundo de Sófia), explicou que o filósofo quis dizer que o certo e o errado, o bem e o mal sempre tinham de ser avaliados em relação à necessidade do homem.

Bonita a teoria. Difícil a prática. Desisto de entender o porquê e vou pro barril. Quando digo vou pro barril é porque estou me lembrando de Diógenes, discípulo de Antístenes, que fundou em Atenas por volta de 400 a.C , a filosofia cínica estribada na postura de Sócrates que parou diante de uma tenda do mercado em que estavam expostas diversas mercadorias e exclamou: "Vejam quantas coisas o ateniense precisa para viver!" querendo ele dizer com isto que ele próprio não precisava de nada daquilo.

A filosofia cínica partia do principio de que a verdadeira felicidade não depende do luxo, do poder nem da boa saúde. Ela consistia em se libertar dessas coisas casuais e efêmeras. Porque a felicidade não estava nessas coisas, ela podia ser alcançada por todos. E, uma vez alcançada, não podia mais ser perdida.

Voltemos a Diógenes, considerado o cínico mais importante : Conta-se que ele vivia dentro de um barril e não possuía mais do que uma túnica, um cajado e um embornal de pão. Um dia, quando estava sentado ao sol junto ao seu barril, recebeu a visita de Alexandre Magno. Alexandre aproximou-se do sábio, perguntou-lhe se ele tinha algum desejo e disse-lhe que, caso tivesse, seu desejo seria imediatamente satisfeito. Ao que Diógenes respondeu: " Sim, desejo que te afastes da frente do meu sol". Com isto Diógenes mostrou que era mais rico e mais feliz que o grande conquistador. Ele tinha tudo o que desejava. ( fonte: O Mundo de Sófia de Jostein Gaarder).

Mais uma coisinha a respeito dos cínicos de então: achavam eles que as pessoas não precisavam se preocupar com a saúde, nem mesmo com o sofrimento e com a morte. E elas também não deviam se atormentar com o sofrimento dos outros.

Agora digo: estou pensando seriamente em adotar esta filosofia, quem quiser me acompanhar e tiver dentes, que escancare a boca , sente e espere a morte chegar, olhando os lírios do campo, esquecendo as promessas dos alexandres magnos, fechando os olhos diante dos desmandos e desacertos políticos e aproveitando o sol que ainda é nosso

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 15/06/2008
Reeditado em 15/06/2008
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