SAUDADES DAS FESTAS DE SÃO JOÃO

Não gosto de carnaval. Houve uma época em que cheguei até a participar dessa festa. Entretanto, quando ainda não havia tanta violência.

O Natal, me deixa deprimida em função da falta de sinceridade de alguns relativa ao amor pelo próximo.

Já a Festa de São João... Ah! Que delícia!

Sempre gostei do São João, não por ser filha de Caruaru, mas por ser uma festa alegre, colorida, música gostosa de dançar - xote, baião, xaxado, forró, quadrilhas - comidas deliciosas e feitas com muito capricho por toda família, principalmente, pelos homens, os quais ficavam incumbidos de comprar o milho, descascar e ralar para o preparo da pamonha e da canjica.

As mulheres; se encarregavam do tempero. Porém, a participação dos homens - pai, irmão, namorado ou marido - não acabava aí. A canjica era mexida por todos que se revezavam e quando estava quase pronta, meu pai, entrava em cena para dar o ponto. Só ele sabia.

Nos reuníamos no quintal de nossa casa a sombra da goiabeira, da mangueira e da figueira. Cozinhávamos no fogão de carvão, que lá havia -ainda há - as comidas para a noite de São João. Lá fora, parte de meus irmãos, enfeitavam o terraço de nossa casa, com bandeirinhas e balões.

A fogueira, os traques de sala e estrelinhas, papai nunca esquecia de providenciar (para nós quando crianças e, posteriormente, para os netos). À noite, em volta da fogueira, fazíamos à festa. Quando o fogo baixava aproveitávamos as suas brasas para assar o milho. A essas alturas o sono e o cansaço nos obrigavam a ir dormir, bem agasalhados e felizes da vida. - É que minha cidade natal, Caruaru, nesta época do ano é bastante fria.

Lembro de já mocinha ter participado de quadrilhas bem tradicionais. Nos vestíamos com lindos vestidos de chita; nos pés, tamancos comprados na feira; nos cabelos; dois laços de fitas, sempre de cores diferentes, como forma de complemento das cores que faltava no colorido do vestido. No rosto, pó de arroz, ruge e pontinhos pretos nas bochechas, imitando pequeninas sardas. Na boca, um batom encarnado e por trás das orelhas, uma pequena gota de uma suave alfazema para inebriar o cavalheiro. Este, com sandália de couro, calça coronha de suspensório; camisa xadrez, lenço no pescoço, chapéu de palha e no coração, a expectativa de conquistar uma "dama" na noite de São João.

Começávamos a nos organizar muito antes dos festejos Juninos e os ensaios da nossa quadrilha eram realizados com muita seriedade. Se faltássemos, corríamos o risco de sermos substituídos, sem contemplação pelo organizador do evento - Ruizinho Rosal - e excelente puxador do arrasta-pé. Ele era muito exigente! Entretanto, muito divertido, espirituoso e inteligente.

Por ocasião das nossas apresentações às vezes se atrapalhava no verbo e recorria com facilidade ao improviso. Se tornava um verdadeiro show à parte. Dançávamos a noite inteira ao som da sanfona, zabumba e do triângulo.

Eita, saudade danada daquelas autênticas festas de São João!

Hoje é tudo diferente. O modernismo transformou e sofisticou uma festa que era impecável pela sua característica de ser uma festa de interior, simples, religiosa e bela.

Que pena!