PELA JANELA DO QUARTO

PELA JANELA DO QUARTO

Marília L. Paixão

O que será que passa na cabeça de uma pessoa quando esta vai numa parada gay, por exemplo, com a intenção de escrever um texto homofóbico? Oras bolas! Uma pessoa com uma intenção dessa ela precisa ir ao evento? Será que a intenção dela não seria querer jogar pedra na Geni? Será que essas pessoas pensam que por não terem um filho gay seja masculino ou feminino quem tem deveria ser crucificado ou rejeitar a cria? Será que elas pensam que estão livres de terem um neto ou neta gay ou sobrinhos ou sobrinhas? E quando tiverem os odiarão tanto quanto odeiam os que eles pensam que nem viver merecia? Uma pessoa desta não devia ir a nenhum evento seja de que natureza fosse! Nenhum evento humano merece um ser de pensamento tão desumano.

E aí este ser acha que é o máximo colocar no papel que viu um ele querendo ser ela ou um ela querendo ser ele. Nossa! Vai ganhar o maior prêmio literário! O Prêmio da pequenez! Legal seria se esta pessoa escrevesse coisas diferentes tipo: eu vi um cara gay ajudando um velho a se levantar depois que um esperto lhe derrubou ao chão lhe esvaziando os bolsos. Eu vi como ele foi cuidadoso com o homem se preocupando até com o fato dele estar ali sozinho, se ele saberia voltar para a casa, se precisava de dinheiro para o ônibus.

Agora o camarada vai num evento gay para escrever sobre quantos homens ele viu beijando na boca de outro homem. Alguém está interessado nesta conta? Os muitos interessados não foram lá para assistir de perto? Talvez ele não pudesse escrever que n a verdade o que o levou ao evento foi a vontade de ver de perto o tal beijo que não mostram na novela. Talvez ele estivesse morrendo de vontade de ficar assistindo. Talvez a intenção fosse realizar uma grande fantasia e ficar pensando: como esses caras têm coragem de fazer o que morro de vontade de fazer e não faço?! Mas como eles têm coragem de fazer o que eu não tenho vou desejar a morte deles! Vou zoar com eles e toda a raça num texto bem medíocre!

Quem sabe a psicologia diria que estas pessoas que conservam tanto ódio que chegam a causar mal estar, no fundo no fundo possuem seqüelas de infância. Ou foram torturadas, vitimas de pedofilia, ou de intensa violência e desamor, talvez cresceram odiando o que seria afeto e gostando de causar dor. Talvez esmagassem passarinhos na palma da mão. E se transformam em adultos que se acham donos da estrada da vida e que nesta estrada as coisas devem andar de acordo com o humor dos seus dias. Estes devem ter os dias em que acordam com um machado em uma mão e outros com uma corrente de espinho.

Devem pensar: em quem eu passo essa corrente hoje? Olha o machado e pensa: onde apontarei meu lápis, onde afiarei minha navalha? Preciso de uma bacia para colher novo sangue.

Imagine neste nosso mundo onde uma dessas pessoas acaba se transformando em um pastor, médico ou um PM. Hoje em dia qualquer um consegue diploma de qualquer coisa e nem precisa de uma mínima formal competência. O que será da fé? O que será da saúde e da segurança? Quem estará seguro ao cair nas mãos deste ser que não sabe o que é o amor e a vida em paz entre outros seres? E se este cara resolver fazer um bico como professor para passar suas histórias ou filosofia de vida? Vai aproveitar do diploma e começar a disseminar maldades na cabeça das crianças. Vai continuar pregando que o mundo é branco e que os homossexuais são doentes e feios? Vão botar fogo em todos os índios e nos países de primeiro mundo explodirão mais bombas? Vão também abusar de todas as empregadas domésticas, das enfermeiras que são quase tratadas como empregadas dos médicos, pelo menos aqui no Brasil. De repente ia até criar uma farc brasileira, aumentar o movimento dos sem tetos...Se bestar roubaria até o cargo do presidente. ( Sério! No Brasil tudo é possível! ) O mundo seria perfeito se as pessoas todas pensassem como ele? Seriam eles os perfeitos? Perfeitos onde? Em quê? O que é perfeito? Será que as nuvens do céu são perfeitas?

Imagine um cara destes ouvindo a Ana Carolina cantando que comeu a Madonna. Como ele deve blasfemar! Quantas vezes não mataria a Cássia Eller e Ana Carolina Juntas? Quantas mais nascerão? Nascem novos rostos todos os dias! Todos abençoados por Deus neste Brasil brasileiro. Isto aqui não é um Afeganistão e tão pouco um Irã. No entanto de onde saem estes seres que se julgam superiores às diversidades? Será que ele não jogaria pela janela todas as Isabelinhas que ele achasse com tendência gay?

A sociedade está cada vez mais dividida em seres com seus traços fortes e estes cada vez mais lutam por seus direitos. Neste caso o que deveria ser aumentado deveria ser o respeito em relação aos novos grupos e tendências, pois ninguém saberia viver e nem deve viver a vida de ninguém. O respeito é o tributo que oferece o livre passe em todas as ruas. Sem ele breve ninguém conseguirá tomar um sorvete na esquina. Você poderá ser apedrejado por um desses caras que erguem bandeiras preconceituosas como se quisessem ser um novo ídolo de alguém. Mas eles não passam de tudo o que nunca conseguiram ser e jamais serão: grandes seres. Deve ser daí que nasce o ódio e desrespeito pelas diferenças. Uma velha insatisfação com o seu real ser.

Eu nunca me esqueço quando minha mãe demonstrou pouco agrado com o meu primeiro namorado escolhido por mim mesma: primeiro lhe arrumou mil defeitos. Era alto demais para mim. Magro demais para mim. Tudo parecia demais no John para a minha mãe. Um belo dia ela implicou com a camiseta que ele vestia. “Parecia coisa de homem fresco”... só porque a camisetas tinha furinhos mas o verdadeiro defeito do John para ela era que ele era moreno demais para mim. John bem que dizia que eu era branca demais! Mas não para ele.

Nesta última viagem que fiz à minha cidade perguntei a velhos amigos se eles tinham notícias do John. As notícias do John que me deram eram do ano 2000 ou 2001. Havia se divorciado e voltado para o Canadá. Eu sei que não fico nada triste quando descubro que algum amigo preferiu morar no exterior. Quem como eu vive aqui, sabe bem o porquê. Por acaso a gente precisa ir a algum evento para saber?

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 27/05/2008
Reeditado em 03/06/2008
Código do texto: T1007718
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