Meu Amigo Alberto
Alberto é um sujeito macho. Luta jiu-jitsu, joga futebol, levanta peso. Mas tem um problema: gosta de coisas cor de rosa. Se pudesse teria muitas camisas cor de rosa, gravata, cueca, escova de dentes, roupa de cama, carro, tudo cor de rosa. Uma vez presenteou a Flávia (sua ex-namorada) com uma bela e sensual camisola. Cor de rosa, evidentemente. E o presente foi entregue junto com um belo buquê de rosas. Rosas rosas! No dia em que foram dormir num motel para ele ver como a camisola havia lhe caído em seu belo corpo, o namoro terminou. É bem verdade que no cartão que acompanhava as rosas ele havia dito que caso o modelo ou o tamanho da camisola não agradassem ela poderia trocar na loja (vejam bem, o modelo e o tamanho!). Mas o que ele não esperava era ouvir da Flavinha que tinha amado o modelo e que a camisola havia lhe caído como uma luva. Só não gostou da cor, e trocou por uma branca. Pois após dormirem (literalmente) aquela noite no motel o Alberto nunca mais a procurou. Ela nunca entendeu por quê.
Mas Alberto sofre. Nunca teve qualquer dúvida quanto à sua masculinidade. Era Homem com H maiúsculo, e disto nem ele nem ninguém jamais suspeitara. Era um sujeito bonito, malhado, de estatura mediana. Sempre fez sucesso com o sexo oposto, e só com este. Diz que sua cor preferida é o vermelho, que ele, na verdade, odeia. Prefere o azul, o amarelo ou o verde. Ora, então porque diz preferir o vermelho? Simples: é um cara esperto, e a escolha do vermelho é caso pensado. Ele compra roupas vermelhas, usa-as por um tempo e depois as lava com uma boa dose de água sanitária para irem desbotando, desbotando, “corderoseando” aos poucos. Depois reclama que a empregada estraga suas roupas.
Era inconformado com uma coisa: que história é essa de associar menino com azul e menina com rosa? Qual a fundamentação científica para este descalabro? Pesquisou o tema e descobriu que há culturas em que se dá exatamente o contrário! É tudo uma invenção cultural! Mais que invenção: imposição cultural! Sua vontade era chutar o balde! Danem-se as convenções! Vivemos numa sociedade democrática, ora bolas, não vivemos? Não, não vivemos, auto-convencia-se ele sempre, ao final destas impetuosas e solitárias meditações. Solitárias, e por isso mais sofridas. Gostaria de compartilhar sua dor com algum amigo ou amiga, mas nenhum amigo iria compreendê-lo. Por mais aparentemente confiável que pudesse parecer havia sempre o risco do infeliz dar com a língua nos dentes, e ele não conseguiria sobreviver a uma traição dessas (e o amigo também não). Talvez uma amiga....... A Valéria, por exemplo, era uma intelectual, feminista, professora universitária. Nela daria para confiar. Mas compartilhar segredinhos com amiga é coisa própria de mulher ou....... bom, definitivamente não era atitude de macho, pensava nosso Alberto.
Hoje ele ainda sofre com o problema, que nunca foi resolvido. Mas já não sofre tanto assim. Afinal, casou-se no ano passado com a Rosa, moça fina, de rara formosura, e que adora ver o mundo cor de rosa. O quarto do casal tem sempre roupa de cama e colchas rosa (ela adora e eu faço concessões, justifica ele às visitas). No jardim as roseiras estão sempre carregadas de rosas rosas. Há quase um ano tiveram sua primeira filha: Maria do Rosário. Estive com ele dia desses, namorando uma vitrine de uma loja de artigos de festas infantis. Aproveitou para entregar-me o convite para o aniversário da “Rosário”. Um reluzente convite com um estampa da Pantera Cor de Rosa. “Foi a Rosa quem escolheu”, foi logo esclarecendo!