O Último Eco da Terra

O Último Eco da Terra

Em um mundo onde o brilho do ouro ofusca o olhar, as cidades pulsantes vibram com a ânsia insaciável do ser humano. As ruas, antes repletas de natureza, agora são dominadas por arranha-céus que desafiam o céu, e as florestas, com suas árvores centenárias, foram reduzidas a recordações em fotos antigas. A ganância do homem, outrora vista como motor do progresso, transforma-se em um veneno que corrói as raízes da vida.

Nas favelas, crianças jogam futebol em meio a pilhas de lixo, sonhando em ser atletas em campos de fama, enquanto ao seu redor a poluição se acumula como um manto escuro. Os rios, que antes serpenteavam com águas cristalinas, agora são artérias de uma doença provocada pelo desperdício e descaso. Os peixes, os verdadeiros habitantes dos nossos mares, buscam refúgio em locais onde a presença humana mal chega, tentando sobreviver a um mundo que não mais os reconhece.

A ganância se espelha nos rostos das figuras imortais que governam essas terras de esplendor e miséria. Empresários e políticos, em um eterno jogo de xadrez, trocam o bem-estar do povo por promessas vazias e contratos obscuros. “Desenvolvimento”, dizem eles, enquanto os olhos brilham com a perspectiva de lucros colossais. O que é esse desenvolvimento senão uma máscara que encobre a destruição?

E assim, os habitantes deste planeta, como personagens de um teatro trágico, vão esbaforidos dos seus afazeres, sem perceber que cada escolha, cada compra, cada passo que dão ecoam através do tempo. Supermercados repletos de produtos embalados, prontos para o consumo apressado, escondem a história de planetas devastados e espécies extintas. Com a mesma fúria com que nos lançamos às compras, destruímos o que há de mais sagrado: a própria Terra.

As vozes de alerta soam fracas, abafadas pelo barulho de contruções e pela música das festas intermináveis. Ecologistas, ativistas e poetas tentam, com suas palavras e atos, reacender a consciência adormecida das massas. Mas são notícias distantes para quem ainda acredita que a natureza é um recurso inesgotável.

Ainda assim, entre as rachaduras do asfalto, flores brotam teimosamente. Pequenos grupos de resistência se organizam, cultivando jardins comunitários, resgatando sementes ancestrais, replantando árvores que parecem sonhar em voltar a ser florestas. Esses são os verdadeiros guerreiros do nosso tempo, aqueles que acreditam na beleza da simplicidade e do amor à terra.

A reflexão é urgente. O mundo que conhecemos, repleto de tecnologia e conquistas, se transformará em um eco distante se não aprendermos a equilibrar a ganância com a responsabilidade. O fim pode ser um precursor de um novo começo, mas isso depende de nós.

Portanto, olhemos ao redor, respiremos fundo. Que o último eco da Terra não seja de um lamento, mas de um chamado à ação, um grito vibrante por um futuro onde a ganância ceda espaço à generosidade, e a conexão com o nosso planeta se torne a base da nossa existência. Que possamos, juntos, reescrever a história com mais compaixão e respeito.

Vera Salbego