PERFUME
PERFUME
Nelson Marzullo Tangerini
Depois de 59 anos de morto, o poeta, cronista, compositor, caricaturista e professor Nestor Tangerini volta a se envolver com a música.
Trata-se da poesia “Perfume”, que ganhou primorosa melodia de Evan do Carmo, músico, editor e também poeta.
Sabendo das múltiplas habilidades de Evan, procurei-o e deixei com ele uma poesia do meu pai. A sintonia foi rápida, e logo Evan comunicou-se comigo e me mostrou a melodia (Bossa Nova) para este lindo poema, um dos preferidos de minha mãe, que, volta e meia o recitava para mim.
Ei-la:
“PERFUME
.
Perfume – domínio, império,
Sublimidade de estrato,
embriagador vinho etéreo,
Que se bebe pelo olfato...
.
Em qualquer parte ou momento,
onde o Perfume estiver,
realidade ou pensamento,
está presente a mulher!
.
Quem o aspira os olhos cerra,
de alma no sonho embebida...
Perfume - essência que encerra
toda a delícia da vida”.
.
A Música Popular Brasileira vive um de seus piores momentos, com músicas e letras pobres e cantores medíocres, mais preocupados em ostentar o apartamento de luxo e o carro importado.
A mídia enfia goela abaixo o que há de pior, o que nos remete ao jornalista e teatrólogo Nelson Rodrigues, que dizia que “A unanimidade é burra”, e sou devo concordar com ele.
Nestor Tangerini foi membro da UBC, União Brasileira de Compositores e conviveu com os grandes da Velha Guarda da MPB.
A nossa casa, em Piedade, subúrbio do Rio de Janeiro, era frequentada por Aldo Cabral (poeta, compositor, jornalista e teatrólogo), Ronaldo Lupo (compositor e cineasta) e Ataúlfo Alves (compositor), entre outros.
Sua música mais famosa é a valsa “Dona Felicidade”, de parceria com Benedito Lacerda, gravada por Castro Barbosa, RCA Viktor, 1937, mas compôs, também, um bom número de canções com Ronaldo Lupo.
O poema “Perfume” foi publicado, pela primeira vez, em 1996, no livro “Dona Felicidade”, Editora Achiamé, voltando a ser publicado em 2016, segunda edição, pela Editora Autografia.
Também foi publicado no Jornal Nova Gazeta – Semanário, p. 8, Ano XII – no. 262, Coluna Literária, Montijo, Portugal, sexta-feira, 26 de julho de 2002.
Apesar de viver entre a Velha Guarda da MPB, como dissemos, Nestor Tangerini via com bons olhos o movimento bossanovista, que primava pela poesia e pela música muito bem elaborada.
Quando faleceu, em 1966, a Bossa Nova vivia seu auge. Talvez o poeta imaginasse que o movimento, viria para ficar. E ficou. Fez história. É ainda a cara do Rio, ainda que tentem mudá-la.
Fico feliz de a poesia de “Perfume” se encaixar com a música de Evan do Carmo. E penso que o poeta aprovaria essa perfumada união.