Reflexões de um pensador
Pensador é profissão de gente esperta: dinheiro para pensar e dizer... Esse negócio de ser artista não está com nada. O artista vive de coisas que ninguém se importa, é viciado na brisa do mar e no canto dos passarinhos, gasta horas falando de coisas que não existem, gasta sorrisos com qualquer sorriso. Se for de criança, então, vira bruma... Ninguém se interessa por isso, não vale nada. Agora, pensador é coisa séria; olhe o tanto que tem por aí: na internet, na televisão, nos jornais. Uns são cabeludos, outros são barbudos ou carecas; eles viajam de avião e têm dinheiro... Às vezes, eles são confundidos com artistas, mas artista é outra coisa. Pensador tem casa, tem rua, tem carro e diploma. Artista vive em abandono, tem o tempo e o toque em essência... divide a rua com outros loucos e sofre de séria fixação em viver. Daí, sua natureza é ser da outra margem. Se o mundo fosse sério, ele teria diploma de vivente com carimbo do governo e salário vitalício. Mas pensador tem roupa de alfaiate de grife e perfume de mulher... artista é outra coisa.
Por isso, daqui para frente, serei um pensador. Diga ao meu violão que, com ele, ficará parte da minha alma. Aos vagabundos, meus adoráveis companheiros das noites infindáveis no Cláudio, deixo meu abraço apertado... Às noites de amor e música, de dança e riso, minha eterna saudade... Agora sou pensador, e vou soltar meu verbo; vou analisar e vou botar pra quebrar... Como primeiro ato do meu novo ofício, vou analisar a ideia... Já estou me imaginando nas bancadas dos podcasts ou, talvez, em uma coisa mais séria, como um jornal... Ah, sim... a ideia, a ideia da ideia: o que é uma ideia... Análise que imagino relevante para estes tempos...
Após árdua meditação, cheguei à conclusão de que a ideia, seja qual for, se divide em três categorias. Primeira categoria: ideia de laço, ideia de emendar, como o laço do vaqueiro ou a linha da costureira; uma avalanche ou meus sentimentos que não me largam. Segunda categoria: ideia de céu ou ar, também chamo de categoria de doido, porque só existe na cabeça da gente. É como uma bolha que não existe, mas junta um monte de coisas que existem dentro. É como essas categorias ou o meu eu em essência... Última categoria: coisa de terra e carne. É a coisa que é, é Marina, é Pedro, é pedra e sangue, são meus olhos calados, é menino, é viela, é Sapolândia, é Cabrália, é Bahia, é agora, é aqui.