PODIA TER SIDO DIFERENTE
Aquela manhã de quarta-feira da primavera carioca, o sol ainda ameno estava em sintonia com um mar transmitindo tranquilidade, praticamente sem ondulação, preservava aquela tranquilidade tão bem vivenciada pelos felizardos frequentadores da Praia do Pontal.
À medida que horas avançavam, crescia também o fluxo de comerciantes chegando para sua rotina diária, descarregando equipamentos e mercadorias no calçadão, para posteriormente transportar até a areia.
Nesse momento, apenas esportistas marcavam presença na praia, uns caminhando, outros correndo, enquanto barraqueiros iam ocupando as areias com suas barracas, mesas e cadeiras, para assim delimitar sua área de atuação, enquanto houver sol e possíveis consumidores.
Não é comum ônibus de turismo estacionarem naquele trecho da praia, estes dispunham de placa diferente das brasileiras, e à medida que passageiros gradativamente desciam do veículo, ficou fácil identificá-los como torcedores uruguaios, afinal a combinação das cores preto e amarelo, são a marca registrada do tradicional Peñarol.
Num cenário idílico como este, onde o azul do céu se mescla com o do mar, limitado pelo belo afloramento rochoso que separa as praias do Pontal e Macumba.
Fica difícil imaginar o que estaria por vir, principalmente para um grupo que permanecera pelo menos 30 horas, para percorrer os quase quatro mil quilômetros que separam a capital uruguaia da cidade do Rio de Janeiro.
O que deveria ser uma festa para comemorar a classificação da equipe para uma das semifinais do torneio mais importante do continente, e que ainda teria o jogo de volta em Montevidéu.
Bom, o inesperado aconteceu, num piscar de olhos, não podiam mais ser identificados como um grupo de torcedores, tomados de uma inexplicável fúria coletiva, e portando sarrafos de madeira e bambus deram início a uma balbúrdia sem precedentes.
A Polícia Militar – PM foi acionada, parece que não levou muito a sério aquela situação descrita pelas pessoas que comunicaram o fato, liberando diminuto contingente da tropa.
Quando o pelotão tardiamente chegou ao local, caiu tardiamente a ficha. Nesse ínterim já tinha gente ferida, principalmente funcionários dos quiosques do calçadão, enquanto isso, outro grupo ateava fogo em motocicletas dos entregadores de mercadoria. O próximo veículo incendiado foi o próprio ônibus que viajaram, e a situação estava longe de ser controlada, e inclusive teve muito PM recebendo paulada na cabeça.
A ordem foi finalmente restabelecida, quando várias viaturas da PM chegaram pelos dois lados da via e despejaram uma onda de soldados, agora sim, com contingente e armamentos que davam condição de enfrentar o desvairado grupo de mais de duzentos supostos torcedor-baderneiros.
Interessante, que ao final das contas apenas vinte e dois delinquentes foram detidos e terão que arcar com prejuízos causados pela multidão enfurecida.
Impressiona como aconteceu essa coincidência de fatos grotescos, que apenas evoluíram pelo descaso da PM, que associado à audácia tresloucada de estrangeiros, intempestivamente resolveram testar a habilidade da PM fluminense, diante da crise de selvageria uruguaia.
Será que nossa despreparada PM dispõe de algum arquivo onde se cataloga boas práticas e os infortúnios de suas ações, para evitar que erros se repitam.