Enquete
Acho curioso como, frequentemente, mesmo as pessoas mais envolvidas em determinada atividade o fazem apenas e tão somente pelo compromisso trabalhista ou salarial.
"Escolha um trabalho que você ama, e não precisará trabalhar um único dia da sua vida". Se não foi Confúcio quem afirmou isso, perdeu uma boa oportunidade.
Em linguagem pragmática, outro dia fui deixar umas tralhas num ponto de recolhimento de recicláveis que a prefeitura paulista batizou de Ecoponto. Após uma pequena enquete, apurei que nenhum dos quatro funcionários presentes "pratica" reciclagem. Mais tarde, pretendia doar sangue. Deixei minha bike no bicicletário da estação de trem. Nova enquete, e as duas funcionárias presentes admitiram, com honestidade, que nem possuem bicicleta. No hemocentro, uma atendente e uma enfermeira nunca doaram sangue. No trajeto de retorno, comprei um passatempo de palavras cruzadas. O garoto que me atendeu na banca de jornal (aquela ilha de lata que vende tudo, menos jornal) também não quer saber de passatempos ou leituras de qualquer espécie (principalmente escrita). Por fim, estive num paraíso que comumente chamamos de "sebo". Do mesmo modo, ninguém ali aprecia leituras, CDs ou vinis.
Concluindo minha odisséia, visitei um antiquário em seguida, onde somente a gerente, com os olhos brilhando, afirmou que ama antiguidades. Naturalmente, foi a única que me atendeu com um largo sorriso no rosto.