Abobrinha

Depois que voltei do hospital, para driblar a ociosidade que me assolava, publiquei três livros na Amazon. Infelizmente, fiquei desanimado ao saber que os únicos exemplares vendidos foram os que eu comprei e um outro que foi adquirido por um leitor. Comecei a indagar a Deus sobre essa situação. Se Ele me agraciou com o dom de escrever e publicar os livros, algo que eu sempre sonhei, por que não consigo vendê-los? O que me entristece ainda mais é que nem mesmo as pessoas que protagonizam as minhas histórias demonstram curiosidade para lê-las.

Diante de tudo isso, assisti a uma palestra sobre Escrita Criativa do crítico literário, professor de Literatura e Escrita Criativa e autor de cinco livros, Rodrigo Gurgel. Inicialmente, assolado pelo desânimo, hesitei em participar dessa palestra. Entretanto, à medida que ele falava, percebi que suas ideias estavam alinhadas com as minhas.

Ele começou sua apresentação com uma pergunta: por que as pessoas devem exercitar a literatura? O professor explicou que a literatura, além de ampliar nossos horizontes, nos capacita a enfrentar os obstáculos e percalços que o cotidiano pode nos apresentar. Ele ressaltou que, através da escrita, a história e as memórias de um povo ou de um indivíduo são registradas, criando um banco de dados que, posteriormente, ajudará outros.

Comentei com a minha tia Sandra que, se todos soubessem o valor da escrita, cada família deveria ter pelo menos um escritor para registrar suas memórias. Certa vez, ao ler uma crônica de um evento que ocorreu há muito tempo, percebi que havia um fato que eu nunca imaginaria ter vivido devido à minha idade; a minha memória realmente pregou-me uma peça. Se eu não tivesse escrito a crônica, sem dúvida uma parte da minha história teria se perdido.

Outro erro que ele mencionou foi a crença de que, para escrever, é necessário ser extremamente inteligente. Ele afirmou que, se pensarmos assim, nunca nos tornaremos escritores. Essa é uma ideia que já me atormentou. Em 1992, quando alguém pela primeira vez me disse que eu poderia ser um escritor, minha resposta foi incisiva: "Não creio que tenho inteligência suficiente para isso, pois mal consigo me expressar no nosso idioma." Muitos de nós, eu incluido, já cometemos ou ainda cometemos esse equívoco.

Outro ponto que o nobre crítico destacou diz respeito à atenção. Concordo plenamente. Assim como um detetive deve prestar atenção aos mínimos detalhes presentes na cena do crime para ter sucesso em sua profissão, o escritor, se pretende evoluir na escrita, deve estar atento aos pequenos detalhes que o cotidiano nos proporciona

Um ponto interessante que o professor mencionou foi que, ao escrever, nossas ideias são refinadas e aprimoradas, e nos tornamos pessoas melhores. Talvez seja por isso que sempre sinto a necessidade de escrever uma 'abobrinha'. Inconscientemente, estou correndo atrás da perfeição. Eis aqui uma 'abobrinha', rs."

Simplesmente Gilson
Enviado por Simplesmente Gilson em 20/10/2024
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