DO MEU TRENÓ DE NATAL…
Final de tarde e eu rodava pela avenida já bem agitada pelo efusivo clima de Natal.
De repente, um sinal me avisou de que precisava abastecer e, numa fracção de segundos, quase perdi a oportunidade de entrar no estabelecimento que sempre me rende um bom papo e também boas crônicas.
Por um triz quase fiz uma pane seca o que me renderia uma boa multa natalina…dessas que salvam as vias decaídas dos falsos "céus dos mundos".
“ô dona, melhor ir pro fogão!”…alguém bem que poderia ter gritado frente a minha manobra intempestiva para entrar naquele estabelecimento. E eu agradeceria pela ideia...
E eu adoraria obedecer o que a principio pareceria um desrespeito.
Ao ser atendida na bomba por um novo trabalhador vi que ali já não mais estava o meu amigo frentista de sempre, aquele, que certo dia me pediu um livro de anatomia para suas aulas na faculdade de odontologia.
“De certo seu trenó já seguiu pelo seu novo caminho…”- pensei com meus botões.
Cumprimentei o novo funcionário do posto e na saída dali ele me disse:
“quase entrou em pane seca, hein dona? -por favor, dê uma ré para conferir seu combustível no visor da bomba”.
Instantaneamente lhe respondi que não era preciso.
“por favor, confira se está tudo certo, é melhor conferir!” -insistiu ele.
Nascia ali a minha crônica do dia.
A crônica dessa época meio fictícia de Natal ,e ainda que na consciência da utopia natalina desse mundo mundano, eu lhe respondi:
“Moço, mas eu acredito em você!”.
Senti que ele ficou meio desconsertado, até surpreso com a minha colocação adversativa ao seu pedido.
Parecia ver algo doutro mundo...
Então, expliquei: “sabe moço, mesmo diante de tudo que vemos, não podemos deixar o mundo mudar a gente. Temos que acreditar e eu acredito em você.”
“Tá certo, Feliz Natal, dona!”- me desejou ele com um baita sorriso no rosto.
E eu segui meu caminho,como se a pilotar meu trenó pelas nuvens, a acreditar que o Natal é toda hora sim, nas nossas mínimas ações que pulsam seus sinos para encenarem mudanças no triste presépio do todo…
A nós cabe acreditar que temos a força para nos resgatar da nossa humana "pane seca" e que no presépio dos Homens, todos juntos, podemos acender as perenes luzes dum verdadeiro Natal...
Tal milagre não é utopia...só depende de cada um de nós.