NATAL, QUAL O VALOR DO SEU PRESENTE?
De quem…para quem…?
Nesses dias pré-natalinos é impossível não se entrar no clima das festas e na aura das reflexões.
O Natal, entre nós cristãos, além duma festa teológica também já se tornou um evento bem sociocultural, posto que mesmo os não cristãos entram no clima festivo das comemorações.
Impossível não se fazer, portanto, um balanço da vida, das horas e das suas transformações culturais pelo tempo.
Assim, embora o Natal se transforme no modo como encenamos a expressividade da nossa festa comemorativa , a princípio, jamais deveria transformar seu significado essencial dentro do Cristão.
Dia desses, ouvindo uma propaganda dum produto alusiva à data, diziam lá que o presente tem que ter um “porquê”.
Verdade, tem que ter. Gostei da mensagem pró reflexiva.
Quantas vezes os presentes são escolhidos por obrigação, não é mesmo?
A um simples exemplo, com o passar do tempo, até os simples cartões natalinos artesanais foram esquecidos, os que continham cenas natalinas cinematográficas, como se fossem nossos sonhos impressos distribuídos aos amigos, os de tanta pessoalidade ,singeleza e profundidade de sentimentos, e os poucos, foram substituídos pela tecnologia: e-mails, redes sociais, “pop ups” , “apps”, pelo whatssap e afins.
Avalanches de “boas festas” friamente impessoais hoje substituem mensagens manuscritas por emails, os que nos chegam enviados por instituições financeiras e lojas comerciais que muitas vezes nem nos conhecem, apenas nos identificam pela compra oculta dos nossos dados em “mala direta”, interessados que estão apenas no, ainda que potencial, poder aquisitivo de cada um.
É a mala direta virtual dos sentimentos massificados e despersonalizados, despidos de sentimentos verdadeiros…veiculados ao simples “on” que abre a tela dos nossos celulares invadidos.
Hoje somos peritos na facilidade tecnológica de se fazer vínculos totalmente esvaziados de humanismo.
Vale lembrar que na cena do Presépio os REIS MAGOS já nos ensinaram, lá atrás, o significado emblemático de cada presente levado ao Menino: O ouro, o incenso e a mirra, cada um deles a simbolizar o que precisamos pela vida. Simples e profundo.
O nossos ouros imunes às traças das matérias, a significar o tudo que realmente mantém real valor pelo tempo, o incenso para purificar e abençoar a árdua caminhada e a mirra, o curativo para nos abrandar as dores…
No entanto o mundo mudou. Temos milhões de amigos invisíveis que destoam a semântica da palavra amizade.
Pessoas substituímos nossas presenças pelas aparências e as ausências reais pelas presenças virtuais cada vez mais vazias de significado.
Hoje o que vale é mostrar a festa e não necessariamente ser, sentir e viver a festa na sua essência vital.
Deve ser porque, na atual sociedade líquida, a vida virtual é rápida, simples, sem trabalhosas "outfashion" construções e ao fácil alcance digital dum delete sem grandes compromissos.
Saint Exupéry não acreditaria que substituímos o seu PEQUENO PRINCIPE pelos REIS DOS NOSSOS UMBIGOS.
Um mundo moderno que nos redime da nossa incapacidade preguiçosa e crescente de voltar a ser gente, assim simplesmente, como toda gente é no seu íntimo “indeletável”, em meio à vida moderna que nos maquia a nós mesmos, a que se norteia por um caminho humanitário esvaziado e perigoso, quiçá meio sem volta no nosso planeta.
Mas o Natal existe.
Então, quase que mecanicamente, vamos às decorações natalinas, às luzes, às faianças, às guarnições, aos encontros casuais depois de longas ausências dum ano todo, aos vestuários para o NOSSO grande dia, às guloseimas que mais parecem gulas que satisfazem nossas fomes ocultas e insaciáveis de humanidade compartilhada e assim partimos, então, para os supérfluo dos glamourosos presentes sem significados e presenças verdadeiras, tudo na melhor estética possível, porque hoje o que manda é, ainda que ocultando nosso self, estar bem nas sélfies das redes “sociais”.
Assim, muitos distribuem palavras e presentes que nada significam, nem para quem os dá muito menos para quem os recebe.
No dia seguinte do Natal as lojas se preparam para trocar e faturar sobre tudo aquilo que nada significou…
E claro, não se pode nunca esquecer do pacote de Réveillon, onde obrigatória e socialmente é preciso se estar num lugar paradisíaco que nos faça sair da mesmice do lugar de nós mesmos.
Curiosa…toda essa correria pela passagem…dum tempo de significado sempre perene.
Volto à propaganda que me inspirou essa crônica, talvez um mini ensaio sobre "nós e o Natal", a que na verdade mais a aprendi observando os comportamentos da vida.
A publicidade apenas me forneceu o “start” para escrevê-la…pois captei sua proposição ao pensamento.
Tempo é relativo mas toda passagem é eterna dentro de nós…a medida que deixa seus registros.
São passagens que ficam...como um milagre da natalidade.
Na verdade o grande milagre do Natal é poder renascer a cada dia na esperança dum mundo mais fraterno, o que nos foi prometido na manjedoura, único caminho para que o Réveillon nosso de cada dia aconteça, de verdade , na plenitude do Espírito que habita em cada um de nós.
E só porque o verdadeiro Natal existe, pela e para a nossa Eternidade, é que nos deixo um genuíno “de…para…” todos nós.
Que tenhamos todos uma perene renovação de vida interior…sempre para melhor.
E vamos brindar nossa essência!
Que nunca percamos a ingenuidade amorosa da criança que nasceu para nos ensinar a ser unos e humanos.