O “MENINO” DE IGARASSÚ

Época natalina e, mais que uma festa religiosa, entre nós o Natal já representa um forte sincretismo sócio –cultural, porque, mesmo para os não cristãos, percebo que há um gostoso clima de festa.

E nessa época a vida ferve: Comércio, presentes, encontros, mesas, guloseimas, enfeites, luzes, mensagens, desejos, felicitações, um stress danado e , de repente: Noite feliz!- “all is calm, all is bright”.

Sinto como se todos tivessemos a correr desesperadamente por um momento de felicidade idealizada...por uma noite.

Todavia quero contar uma história, não dos Natais encastelados, cheio de pompas e etiquetas ao vento, mas desses Natais que vivemos todos os dias pelas nosssas rotas: afinal, Natal é principalmente lição, reflexão e oração.

A presente inspiração desta crônica me surgiu dia desses quando, neste ano, resolvi montar um presépio diferente dos tradicionais que gosto de colecionar.

Tenho paixões por presépios justamente porque neles enxergo que se registra os detalhes imperceptíveis das histórias dos protagonistas da vida...então, ajuntei um montão de objetos que me dizem algo pelo meu tempo e montei meu cenário dentre, desde esculturas de porcelanas finas até pérolas confeccionadas com sucatas e tocos de madeiras: todos materiais nobres, posto que se reciclam e materializam profundas impressões do meio por meio das mãos de quem faz dos sentimentos sua argamassa de vida.

Aliás, a vida é uma sequência de NATAIS em antítese, e é exatamente desses contrastes materiais “EM VIDA” que retiramos as mais fortes lições reflexivas da própria jornada.

E parte desse meu “presépio” deste ano, então, começou há um tempinho atrás, quando conheci o município de Igarassú, a caminho da Ilha de Itamaracá, em Pernambuco.

Consta que esse município é uma das primeiras povoações do Brasil.

Descia eu a escadaria do Santuário de Cosme e Damião e um Menino veio ao meu encontro a me oferecer uma de suas belíssimas peças talhadas em madeira: “compra uma moça, pelo maor de Deus, me ajuda a ajudar a minha família!”.

Olhei sua arte e me impressionei com a delicadeza com que talhava o seu presépio de vida em pedacinhos de madeira.

Era difícil escolher uma dentre tantas cenas de vida dura, tão lindamente ali contadas.

Não precisava falar mais nada: ali estava o seu Natal fortemente representado, ele, O Menino, dentre tantos, logo ali pelas fronteiras das fronteiras de nós mesmos, em busca de sustentar sua Sagrada Família.

É a ele, que talvez nunca lerá minha crônica, ao MENINO DE IGARASSÚ, já homem feito com toda certeza, protagonista ecumênico e universal da luta de todos os presépios do mundo; é àquele personagem marcante que me encenou o Natal visceral mais cotidiano do qual pude participar na vida, que dedico esse meu texto em homenagem ao verdadeiro Espírito de Natal: O que que em mim acendeu e que aqui o pretendo reacender em chama perene ao mundo.

Conto que sua sua escultura abre minha cena Natalina em oração de socorro.

Que dobrem os sinos por todos os Meninos...para que o Natal nos seja feliz de verdade, para todo o sempre.

Eis o meu grande pedido ao milagre do Natal:que possamos em mãos unas, um dia, remontar em conjunto o tão alvejado presépio da Terra.