A ROÇA DO MEU AVÔ
No tempo qu eu era mininim,
Meu vô, home bão e direito
Tinha um terrinim
Onde capinava de eito.
Se fosse hoje era fazendero
Purquê num era tão piqueno
Mas se num dava cem arquere
Era só dono dum terreno.
Lá todo mundo trabaiava
Do iscuro inté o sol se iscondê.
Uns rumava a terra e prantava.
Otros coía o que cumê.
Dinoite na cuzinha o povo riunia
Era onde todo mundo contava
Sua labuta do dia a dia
E pro amanhã o afazê preparava.
Dum canto nois mininim iscutava
Inquanto cumia muito biscoito
Que cum carinho a vó fritava
Divagarim, sem nenhum afoito.
Lembro da água da mina
Que brotava no pé da serra.
Água pura, fria e cristalina.
Nem paricia nascida da terra.
Pra levá a água até a porta
Deu uma grade trabaiera,
Cavaram a terra dano vorta
Pra fazê a corredera.
Quando chegô perto da casa
Foi grande a aligria.
Fizerum uma bica rasa
Donde a água curria.
Era água pra tudo, inté prá bebê.
Na bica lavava vazia e rôpa.
Qui coisa boa, dava gosto vê.
Fazia baita fartura, nem paricia pôca.
Daquela água e tudo daquele lugá
Onde vivi cheio de isperança
Foi bão de vivê e é bão de contá
Parece sonho guardado na lembrança.