A ROÇA DO MEU AVÔ

No tempo qu eu era mininim,

Meu vô, home bão e direito

Tinha um terrinim

Onde capinava de eito.

Se fosse hoje era fazendero

Purquê num era tão piqueno

Mas se num dava cem arquere

Era só dono dum terreno.

Lá todo mundo trabaiava

Do iscuro inté o sol se iscondê.

Uns rumava a terra e prantava.

Otros coía o que cumê.

Dinoite na cuzinha o povo riunia

Era onde todo mundo contava

Sua labuta do dia a dia

E pro amanhã o afazê preparava.

Dum canto nois mininim iscutava

Inquanto cumia muito biscoito

Que cum carinho a vó fritava

Divagarim, sem nenhum afoito.

Lembro da água da mina

Que brotava no pé da serra.

Água pura, fria e cristalina.

Nem paricia nascida da terra.

Pra levá a água até a porta

Deu uma grade trabaiera,

Cavaram a terra dano vorta

Pra fazê a corredera.

Quando chegô perto da casa

Foi grande a aligria.

Fizerum uma bica rasa

Donde a água curria.

Era água pra tudo, inté prá bebê.

Na bica lavava vazia e rôpa.

Qui coisa boa, dava gosto vê.

Fazia baita fartura, nem paricia pôca.

Daquela água e tudo daquele lugá

Onde vivi cheio de isperança

Foi bão de vivê e é bão de contá

Parece sonho guardado na lembrança.

JFerreirinha
Enviado por JFerreirinha em 16/02/2008
Reeditado em 12/02/2016
Código do texto: T861671
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