O DRAMA DO MESTRE ARNALDO

Eu vou começar contando

Quem quiser preste atenção

O drama do mestre Arnaldo

Que perdeu toda plantação

Lá para as bandas do brejo

Se dando nesta ocasião.

E assim por muito tempo

Houve chuva todo dia

Morreu gado com força

E os bodes de Luzia

Sofreu ali muita criança

Pra viver sem garantia.

Dona Lica de Seu Bento

Foi uma boa guerreira

Escapou com a família

Que morava em Cachoeira

E assim o mestre Arnaldo

Escapou numa cumeeira.

Seu Lindolfo do mercado

Que gostava de papear

Quase morre de desgosto

Vendo tudo se acabar

Mestre Arnaldo não sabia

Qual era a hora de terminar.

Dona Rita costureira

Perdeu todas suas costuras

O fiado que ela tinha

Foi entregue pras alturas

O marido guarda noturno

Foi caçar as tanajuras.

A fome foi muito grande

E o mestre teve que ser

Um exímio pensador

Teria ele que definir

Contar tudo que sobrou

A dona Juvina mesquinha

A sua sobra nada prestou.

A chuva de 37

Quase mata população

Um mestre criado ali

Tomou uma grande decisão

De lutar pelo seu povo

Com a magia de cidadão.

Esse cabra era Arnaldo

Devoto do Meu Padim

Nascido no Ceará

Que nunca foi tadim

Foi forte como cobre

E bem melhor que tudim.

No brejo, Arnaldo não vai

Tem medo da solidão

O seu amor verdadeiro

Nunca lhe pediu perdão

Morreu de tuberculose

Encostada num paredão.

Arnaldo não planta mais

Não gosta de ter cuidado

Prefere pagar imposto

Do que viver remendado

As pernas cicatrizadas

Só podiam ser de Arnaldo.

Maria das Dores, a jovem

Filha de um fazendeiro

Se engraçou de Arnaldo

Num amor bem verdadeiro

Quis dizer pro seu amado

Que fosse ser um padeiro.

Fazer pão nunca topou

Simplesmente foi dizendo

Das Dores ficou tão triste

E pouco a pouco foi morrendo

Arnaldo sem entender

Só dizia: - Estou sofrendo.

A população local

Só pensou repreender

Mandou toda polícia

Com vontade de prender

O coitado do Arnaldo

E uma voz quis suspender.

Foi a voz de Das Dores

Que fugiu do cemitério

Com os trajes de defunta

Foi falando de adultério

Soldados deram no pé

Nesse famoso impropério.

Esta cena ficou marcada

Nas falações de toda gente

Das Dores tinha morrido

Como voltou tão de repente

Só sei que aquele Arnaldo

Nem deu tempo ficar contente.

Ela quis livrar Arnaldo

No momento ir pra cadeia

Sumiu logo depressa

Que não teve pareia

Os soldados até hoje

Só param levando peia.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 05/09/2024
Reeditado em 08/09/2024
Código do texto: T8145354
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