VIDA NO SÍTIO
Distante deste barulho
Num sítio eu vim morar
Plantei muita banana
E esta não vou comprar
Gastei a minha energia
No campo a trabalhar.
Logo cedo me acordo
E faço o meu café
Vou na vaca tomar leite
Fazer minha oração de fé
Cavalgando em meu cavalo
Deixo ele e volto a pé.
A vida daqui do campo
Me deixa mais sossegado
Ando sem muita pressa
E sou mais determinado
Na cidade andava triste
Aqui sou bem medicado.
O remédio que eu tomo
É de forma bem natural
Pras dores desta velhice
Um chazinho tão normal
Que alivia o sentimento
E me esqueço do jornal.
As notícias da cidade
Elas foram esquecidas
Agora o que eu faço
São sementes prometidas
Nas terras deste meu sítio
Curo todas as feridas.
Sou morador de sítio
Não sou da zona urbana
Cada manhã é algo novo
Ao me levantar da cama
Na cidade o barulho
É motorista que reclama.
Eu preciso de muita gente
Para hoje estar comigo
Bebendo água do campo
Me livrando do perigo
Saber que vida eu levo
Sozinho neste abrigo.
Não casei nesta existência
Filho nunca fiz nascer
Sempre fui trabalhador
Sem querer me enaltecer
Se você pensa como penso
Venha agora me conhecer.
O sítio é bem modesto
E fica numa grande altura
É farto o que se planta
Nesta grata agricultura
O cabra pode ser doido
Que acaba a sua loucura.
O clima daqui do campo
É pássaro rindo e cantando
Fazendo o silêncio reinar
E você vai se admirando
O riacho que passa aqui
Banho nele fico tomando.
Até hoje me perguntam
Por que hoje estou assim?
Respondo com gentileza
Que lá tudo era ruim
O som me incomodava
Feito espada de Caim.
No sossego desta casa
Eu recordo a cidade
Ligo o rádio no programa
É na Hora da Saudade
Tão antigo como eu
Como o nome liberdade.
Eu conheço tanta gente
Que mora aqui bem junto
Cada dia é nova prosa
Não se acaba o assunto
O compadre Mané Bento
É sanfoneiro de conjunto.
O compadre é uma pessoa
Que toca com a natureza
Nos baixos da sanfona
Cria música com certeza
São tantas cantorias
Noite de pura riqueza.
A tarde é mais suave
O pôr do sol mais brilhante
Olhando daqui de casa
É tão belo este calmante
Penso num belo livro
Com histórias de amante.
Eu vivo aqui no sítio
E não tenho preocupação
Faço o que bem quero
E não dou satisfação
A cidade só se interessa
Quando existe apelação.
Eu agora neste instante
Leio um livro de memória
Traço minhas lembranças
E crio a minha história
Esquecida com o tempo
Quando havia palmatória.
Já peguei uma porção
De peixe dentro da loca
Asso e como todo dia
Com uma gostosa tapioca
Mora comigo um tatu
Que vive dentro da loca.
Ele gosta de mim
E eu dele também
Quando eu me acordo
Ele da toca logo vem
Olha bem no meu olho
E me pede um vintém.
Crio cada história
Nesta bendita solidão
Saio no meu cavalo
Devastando este sertão
Trazendo comigo a paz
Que alivia meu coração.
Esta casa é muito simples
Porém, muito bem cuidada
Tenho tudo que quero
E não sinto falta de nada
Gosto quando é de noite
Numa tremenda trovoada.
O sítio todo estremece
E não sinto nenhum medo
Penso na minha infância
Quando guardava segredo
Hoje já bem crescido
Velho cheio de enredo.
Fruta de qualidade tenho
Mas é linda a bananeira
Que circula todo este sítio
E dá numa vida inteira
Pra encher o bucho da fome
Desta população brasileira.
A vida daqui no sítio
Me faz um bom menino
Que não obedece ninguém
E vive num só desatino
Pega bode pelo rabo
Em tudo se faz traquino.
A mercearia mais próxima
Fica numa grande distância
Tudo que se procura
O dono lhe dá importância
A fala do sertanejo aqui
Não carrega ignorância.
Todo bicho do mato
Neste sítio houve um dia
Paca, tatu, onça e jacaré
Cobra, javali e cutia
O que existe ainda
Comigo faz companhia.
A raposa tem no terraço
E a casa ela dá segurança
O guaxinim mora bem perto
E traz muita esperança
O preá dono do mato
Brinca feito uma criança.
A minha vida aqui
Me alegra a existência
Porque sou um estudioso
Do homem à consciência
Sou um foco de ilusão
Neste mundo da ciência.
Olhando o céu a noite
As estrelas ficam sorrindo
Você de boca aberta
Parece que estar fingindo
Dar um riso também
E o amor vai se construindo.
Lembro da minha mãe
Quando ela me esperava
Aqui perto do sítio
Onde o pai dela morava
Eu tão pequeno ouvia
História que ela contava.
No sítio me sinto bem
Antes e também agora
Não tenho a menor vontade
De ir daqui simbora
Moro sozinho, eu sei
E sei que muita gente chora.
Agora faço encerrar
Esta vida que me aclama
Vou vestir com muito amor
O meu florido pijama
Vou dormir com meu cordel
Na minha amiga cama. - FIM
FIM
João Pessoa-PB, 08 de janeiro de 1999.