OS BAMBUS DO DANÇADOR
Quem pensou ser dançador
É preciso balançar
O dito que faz balé
No salão já quer lançar
Nessa dança sem ter som
É pecado bagunçar.
Ninguém pode vir pecar
Pra subir feito balão
Todos nós somos balões
Pra relar no meu pilão
Tronco feito de bambu
Pra dançar nesse salão.
Se dançar como bambus
Será fruto bananal
A dança dos bananais
É mexido natural
Se beber pinga no bar
Se retire do local.
Bananeiro foi barão
Pros plebeus serem barões
Deitado naquele baú
Tem samba nos casarões
Quem foi pobre teve baús
Na riqueza dos chorões.
Quem dançou pode beber
Pra beber tem que calar
Nos bambus fomos bebês
Pra dança vir embalar
O forasteiro Timbu
Também pode vir falar.
Todos seremos timbus
Chupando qualquer bombom
Esses bambus são sacis
São do tipo califom
Na dança desses bobões
Lobo nenhum será bom.
Os patrões vão de boné
Dos mais terríveis bonés
Quem pega querem bordar
Pra botar nos seus chalés
Todos bambus são bordais
Dos barões que são Manés.
Os bordais já vão dançar
Num tino bronzeador
Dançarinas de buquê
Num bambu condenador
Quem não dança são buquês
No dançar depravador.
Os burgueses vão dançar
Na dança que tem café
Se não tem como beber
Se vão todos pro ralé
Burgueses querem mentir
Pra curar qualquer chulé.
Os ventos dançam bambus
Pendurados num caixão
São caixões desses barões
Que não terão compaixão
Quem bebe para morrer
Quer morte sem ter paixão.
O tronco do pau bambu
É bebum sem envergar
É cangaceiro babão
Que nunca quer enxergar
Se vive para cangaço
Não precisam entregar.
Debaixo deste cajá
Como fruto dos cajás
Um caju não vai cair
Como cajus não cairás
Tu tentas se revelar
E bambu nunca serás.
Não querem botar banca
Nem é preciso bancar
Não terão banco nenhum
Por isto vão se mancar
Banqueira nunca lhe quer
Banqueiro quer espancar.
Quando compra é barata
Barateira vai gostar
Barateiro num fervor
Barato quer apostar
Barganha precisa ser
Pro poder poder gastar.
Bananeiros serão bons
Forasteiros marginais
Todos dizem: - Eu serei
Os dançadores divinais
Jogando no capital
Somos lucros virginais.
Dos prédios donos serão
Pra viver de capital
Capitalismo é bom
Capitalizar faz mal
Capitanear o ter
Um ter sensacional.
Todos nunca batem carteira
Carteirada não faz bem
Seus prédios são viés
Do povo que nunca vem
Faxineiras limpam sim
Um lugar desse não tem.
Edifícios com castiçais
Que tão lindo castiçal
Castiga quem nunca tem
Castigo vem pro braçal
Só quem perde no viver
É o nobre serviçal.
O mundo tem compaixão
Pra viver das tradições
Compondo frágil lei
Cartórios sem corações
Pro projeto se compor
Criam-se composições.
Lucram na composição
O dono tudo compôs
Comprando tudo que quis
Enfeitou seus bangalôs
Das notas logo correu
Espancou todos pivôs.
Quem não precisa dançar
Dá grito que já dancei
Prédios são capitais
Dizem todos: - Eu lancei
No papel que tem valor
Preço real comecei.
Na conta do debitar
Débitos fazem crescer
Decência nunca terão
Pro crédito florescer
Finanças vão conquistar
Pra podermos conhecer.
Quem dança já vai falar
Nas danças da meretriz
Limpeza quem é que faz
Pro faxineiro raiz?
Prédio tem que se limpar
Pra grana ficar feliz.
Felizardo é bambu
Que barra todos letais
Fiscal bom tem que calar
Com seus paletós fetais
Fiscalizados vão ter
Danças humanas brutais.
Ser bambu como fiscal
É dança camaleão
Os bambus camaleões
Enfrentaram um Galeão
Nas esquinas do teu lar
Já briguei com um leão.
Bailarinos vão pra lá
Nos bambus que são daqui
Os de lá já dançam sós
Nas danças que são dali
Meu cumpade quer dançar
Nas festas que tem rali.
O capital não dá mais
Pra comprar qualquer lugar
Quem dança feito bambu
Nunca mais quer se largar
Quer dançar para sorrir
Pros bambus que vão pegar.
Os balões querem subir
Quem pecou já teve fé
Na dança do fervilhão
É tão bom ficar de pé
Seu juiz faça o favor
De botar a marcha ré.
O carro que vai passar
Nunca pode poluir
Vou botar pau de bambus
Pra dança me possuir
Esse cesto de cipó
Vai dançar até sumir.
Lampião disse pra mim
Ter cuidado com você
A dança do capitão
Já teve tanto buquê
Se bambus podem falar
Ninguém saberá porquê.
Sigam a seta pra ler
Um lindo livro de dor
Deixe Lampião falar
Porque foi devastador
Encontrou-se com a fé
E voou com asas de condor.
Na dança de quem ficou
Sorrindo pra ver se tem
Os prédios vão proibir
A dança que faz só bem
O bambu que me darão
Pra junto de mim não vem.
Eu quero dançar pra ver
Você bem junto de mim
Colado sem se largar
Pra ruindade dar no fim
Cansado sem nem saber
Do valor que tem o sim,
Eu vou ter que terminar
O cordel que não gostei
Vou botar no paletó
Os versos que não contei
As estrofes vão contar
Porque nunca despertei.
FIM
João Pessoa-PB, 19 de agosto de 2024.