Eu vou contar um cordel

De um matuto sonhador

Que saiu do seu sertão

Em busca de um novo amor

Foi pra cidade grande

Cheio de fé e fervor.

 

Seu nome era João do Norte

Caboclo de pé no chão

Levava na sua mala

Só coragem e um violão

Deixou seu pedaço de chão

Com tristeza no coração.

 

Pegou um trem de ferro

E seguiu pro seu destino

Olhando a paisagem linda

Pensava no desatino

Deixar sua terra amada

Pra enfrentar o destino.

 

Chegando na metrópole

Se sentiu meio perdido

Gente correndo pra todo lado

Um barulho desmedido

Mas João não desanimou

Seguiu firme e destemido.

 

Na rua de grandes prédios

Se viu em um mar de gente

Tentou pedir informação

Mas ninguém foi complacente

Olhos fitos em celulares

E expressões indiferentes.

 

Achou um banco de praça

Pra descansar um bocado

Sentou-se com seu violão

E tocou desafogado

Canções do seu sertão

Que traziam o passado.

 

Foi então que uma moça

Passou e ficou encantada

Com a melodia doce

Que João cantava na calçada

Se aproximou devagar

Com a alma admirada.

 

Era a bela Mariana

Da cidade, filha nata

Seus olhos brilhavam tanto

Quanto a lua que desata

Sua luz nas noites claras

Do sertão que nos arrebata.

 

Mariana e João conversaram

Até a noite cair

Ela contou dos seus sonhos

Ele, dos campos a florir

Deu-se um laço de amizade

Que o tempo não há de ruir.

 

Mariana mostrou a cidade

Para o jovem matuto

Levantaram muitas risadas

E também algum luto

Pois João sentia saudade

Do seu chão, do seu reduto.

 

Visitaram museus e parques

E grandes construções

João admirava as artes

E as modernas invenções

Mas sentia falta do céu

Das suas constelações.

 

Um dia, num grande evento

De música e tradição

João foi convidado a tocar

Uma moda de violão

E sua canção sertaneja

Tocou fundo o coração.

 

A plateia emocionada

Aplaudiu de pé, feliz

João sorriu com a alma

Como se fosse raiz

Que brota e dá novos frutos

Onde menos se prediz.

 

A fama de João cresceu

Na cidade grande, enfim

Suas canções tocavam

Nos bares e nos jardins

Mas seu coração ainda

Pertencia ao seu confim.

 

Mariana e João tornaram-se

Mais que amigos, amantes

Viviam como dois pássaros

Livres, mas confiantes

De que o amor verdadeiro

Não precisa de diamantes.

 

Chegou o dia de escolher

Ficar ou voltar pra casa

João sabia que seu coração

No sertão ainda repousava

Mariana disse a João:

"Vou contigo, com asas."

 

Partiram juntos pro sertão

Mariana e João do Norte

Levaram na bagagem

Amor, canções e sorte

Construíram nova vida

Com fé, além do suporte.

 

No sertão, a vida é mansa

Mas também de labuta

Mariana aprendeu logo

A rotina da matuta

E João cantava feliz

Com sua voz absoluta.

 

A cidade ficou na lembrança

Como um sonho encantado

Mas o que vale na vida

É ter o amor ao lado

Construíram uma família

No sertão, abençoado.

 

E assim termina o cordel

Dessa aventura imensa

De um matuto e sua amada

Que viveram sem descrença

Mostrando que o amor verdadeiro

Vence qualquer diferença.

 

A Sales
Enviado por A Sales em 16/07/2024
Código do texto: T8108431
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