A REVOLTA DOS BICHOS NAS REDES SOCIAIS
Lá nas redes sociais
Uma treta está rolando.
A revolução dos bichos
Todos estão comentando.
Os animais da caatinga
Já estão se organizando.
E foi a SUÇUARANA
Que teve a iniciativa
De criar logo uma página
E mantê-la sempre ativa.
Pôs um nome sugestivo:
Animais de Patativa.
Nessa última semana
Ela ficou revoltada,
Falou do seu sofrimento
E o da prima, Onça Pintada,
Caçadas ilegalmente
E o governo não faz nada.
Disse: — “Isso é uma vergonha
Para esta linda nação.
Ter seus animais extintos
Sem nenhuma proteção,
Só pra que homens cruéis
Tenham sua diversão”.
O TATU-BOLA curtiu
E depois compartilhou.
No seu compartilhamento
Ele mesmo legendou:
“Vejam para onde a ganância
Do tal homem nos levou.”
A ARARA-AZUL-DE-LEAR
Em sua sabedoria
Disse que a coisa está feia
Para os lados da Bahia.
Ela comentou dizendo:
— “Veja que patifaria!
Aqui em Jeremoabo
Ou até mesmo em Canudos,
Tá completamente cheio
De caçadores, chifrudos,
Nos caçando ilegalmente,
E os governos estão mudos.
Ninguém toma providência,
Ameaçando de extinção
Eu, meus irmãos e irmãs,
É triste a situação.
Os humanos são perversos,
Espécie sem coração.”
ARARINHA-AZUL, tadinha,
Estava muito abalada,
Pois sua linda família
Tinha sido exterminada,
Restaram poucos da espécie,
Hoje ela vive exilada.
O Curió comentou,
Já bastante revoltado:
“Me tiram da liberdade
Para me deixar trancado
Lá dentro de uma gaiola
Onde sofro aprisionado.
Quando eu canto o Homem pensa
Que é um cantar tão bonito,
Na verdade, é um lamento
Pelo meu viver aflito.
É saudade da família,
Não é cantar: é um grito.”
Disse a Vaca: “Eu não aguento
Esse viver tão mesquinho.
A fome do bicho-homem
É o maior desalinho,
Pois no afã de saciá-la
Matam o meu bezerrinho.
O Pica-pau, escondido
Na mata, muito distante
Resolveu manifestar-se:
“É perseguição constante,
Por parte do bicho-homem,
Ser desprezível e errante.
Vão destruindo a floresta
Pra construir condomínio,
Enquanto a vida nas matas
Só vai entrando em declínio,
Assim, anos após anos,
É o maior morticínio.”
A Piranha lá no rio
Quis dar uma de bacana,
Disse: “Por aqui não temo
Nem mesmo a Suçuarana.
Se o Homem entrar no rio
É certo que ele se dana.”
Pirarucu bateu palmas
Dizendo: “Estou de acordo.
No rio estamos seguros,
Quem entrar aqui eu mordo.
Cada peixe aqui está
Bastante feliz e gordo.”
A Coruja rebateu,
Com sua sabedoria:
“Caros peixes, não se enganem,
Pois não há diplomacia,
Vocês se fingem de cegos,
Não veem a tirania.
Bicho-homem quer vocês
Lindos no meio do gelo
Numa caixa no mercado
Onde não existe apelo.
Uns peixes ficam por cima
Servindo como modelo”.
O LOBO-GUARÁ, nervoso,
Discorreu com maestria:
— "Fui colocado na cédula,
Mas vejam só que ironia,
Foi justamente o dinheiro
Que causou essa agonia.
Meus olhos e minha cauda
Vendidos como amuletos.
Já que eu e meus carnais
Somos todos obsoletos,
Pois ficamos mais bonitos
Estampados em panfletos.
Ou na nota de dinheiro
Que os imbecis vão gastar
Pra comprar mais animais
Que depois irão entrar
Na lista de ameaçados
E o ciclo recomeçar.”
— “Exatamente isso, Lobo” —
Disse o Cachorro-do-mato
— “Tô cansado dos humanos,
Devíamos fazer um trato:
Reunir a bicharada
E fazer um ultimato.”
A Asa-branca comentou:
—"Isso não vai funcionar.
A consciência do homem
Tem um botão de ativar
E somente com dinheiro
É que se pode apertar.”
A Cascavel comentou:
— “Todos temem meu veneno,
Porém, comparado ao homem,
O seu perigo é pequeno.
Ataco pra defender
A mim ou ao meu terreno.
Contra meu veneno existe
Antídoto pra se curar,
Mas contra a maldade humana
Quem poderá nos salvar?
Quem pode nos defender
Quando o homem quer lucrar?”
Senti vergonha de tudo
E não consegui ler mais.
Descobri que, nós, humanos,
Também somos animais,
Porém só nós é que somos:
Cruéis e irracionais.
Fiquei pensando no sonho,
Não consegui mais dormir,
Com aquilo na cabeça
Comecei a refletir:
“Mas o que está sendo feito
Pra melhorar o porvir?
Enquanto poucas pessoas
Lutam pela natureza,
Grande parte ambiciosa
Que só pensa na grandeza,
Vai destruindo o que resta
Da nossa fauna indefesa.
Eu que sonho com um mundo
Para a nossa descendência,
Vejo tudo se acabando
Sem um pingo de clemência.
Ninguém se importa com nada,
Nem com a sobrevivência.
O que nós vamos fazer
Pra mudar o panorama?
A natureza doente
Por nossa ajuda ela clama.
E se não fizermos nada
Vamos acabar na lama.
Pouco tempo ainda resta
Pra mudarmos o cenário.
Agindo em sabedoria,
E esforço extraordinário.
Procure mudar também
Não aja mais como otário.
Salvar a bela natura
É o nosso maior plano,
Ou nada mais restará,
Sofreremos com o dano...
Me senti envergonhado
Só por ser um ser humano...