MARACUJÁ: o lugar onde nasci (cordel)
Tem um dito popular
Seguindo uma grande norma
“Nada no mundo se acaba
Com certeza se transforma”
Não querendo pré-julgar
Descrevendo meu lugar
Rimando da melhor forma
Fui ao lugar que nasci
Não pude me aproximar
A estrada que deixei
Tinha cercas no lugar
Bateu a tristeza em mim
A roça virou capim
Só tendo o gado a pastar
Por lá nasceu meu avô
E meu bisavô também
O meu pai e os meus tios
Nasceu muito mais alguém
Hoje lá tudo acabou
Quem não morreu se mudou
Lá não mora mais ninguém
Às margens do Piauí
À sombra do trapiá
Com solo rico em argila
Um lugar melhor não há
Pensando no amanhã
Todos mudaram pra chã
Do sítio Maracujá
Lembro da velha cancela
Que vez em quando batia
Era sempre algum vizinho
Que por ali residia
Ou o senhor Oliveira
Que apontava na ladeira
Pra tirar fotografia
Minha mãe nos preparava
À tarde, já fim do dia
Pra fazer pouse pras fotos
Era grande a euforia
Não precisava de óculos
Para enxergar os binóculos
Era a maior alegria
No meu tempo de menino
Acordava bem cedinho
Não possuía brinquedos
Para brincar um pouquinho
Vivi minha mocidade
Sem jamais ter vaidade
Só de mãe tive o carinho
Trabalhava no inverno
Na roça que pai fazia
Vez em quando um mutirão
Era a maior alegria
Tinha pinga com limão
Para aguardar o feijão
Na hora do meio dia
Tem coisas do meu lugar
Que jamais posso esquecer
As noites enluaradas
Com o sol a se esconder
Inda guardo na memória
Minha mãe contando história
Nos fazendo adormecer
Lá eu tinha o meu cavalo
Animal de vaquejada
Um cachorro bom de caça
Pra caçar na invernada
Meus quatro bois de primeira
Não respeitavam ladeira
Puxando o carro na estrada
Sou família Joaquim
E me orgulho de falar
Quinca Vieira da Rocha,
Um fundador do lugar
Ele foi meu bisavô
Era pai do meu avô,
O Zé Quinca popular
Moradores pioneiros
De família bem ordeira
Pedro Vieira da Rocha
E também Tiné Vieira
Já a dona Eliotéria
Com sua palavra séria
Odiava brincadeira
Sei que a dona Perpétua
Também cumpriu seu destino
E seu Esperidião
Também João Jesuíno
E seu Egídio viveu
Na famosa Chã do Breu
Desde o tempo de menino
Há muito mais de cem anos
Tinha escola no lugar
Uma senhora ensinava
Com aula particular
Era paga com farinha
Cada um dava o que tinha
Para o débito saudar
Meu vô aprendeu a ler
Com a tal professorinha
Que muito tempo depois
E por ser sua vizinha
Não desviou de seus trilhos
Também ensinou os filhos
Do vovô e da dindinha
Já pertenceu a Penedo
O meu pedaço de chão
Também foi de Igreja Nova
Aquele velho torrão
Mas desde o ano 60
Pra quem ele se apresenta
É de São Sebastião
Ele serve de limite
De agreste e litoral
Hoje São Sebastião
Seu município formal
Tem a proteção Divina
Sagrada terra Agrestina
Distante da capital
Quando o velho “Salomé”
Virou “São Sebastião”
Dia 31 de maio
Foi sua emancipação
Já tratou de melhorar
O povo do meu lugar
Teve a sua evolução
Foi fundada uma escola
Pra criançada estudar
A “16 de Setembro”
Com seu nome singular
Na primeira experiência
Uma humilde residência
Foi quem pôde acomodar
Depois dos anos setenta
Quando a mudança ocorreu
Para o Maracujá Dois
E também pra Chã do Breu
Com a nova geração
E muita superação
O lugar desenvolveu
Os breus não existem mais
Nem também o jatobá
Nada da mata restou
Nem um pé de araçá
A natureza sofreu
Não se fala em “Chã do Breu”
Tudo é “Maracujá”
Foi fundada uma cerâmica
Pelo senhor Avacir
Lá pelos anos setenta
Estava a se construir
Ajudou a muita gente
A ter emprego descente
Pra quem pôde conseguir
Com a nova geração
Veio à tecnologia
Lampião virou museu
Chegou luz à energia
Também chegou internet
Na mansão ou kitnet
Vivem na mesma alegria
Hoje tudo tá mudado
Tem escola no lugar
Com alunos bem nutridos
Com a merenda escolar
Tá tudo climatizado
O povo realizado
Ninguém deve reclamar
Tem um posto de saúde
Pra toda população
Médico para atender
Em qualquer ocasião
Ambulância no local
Pois se alguém passar mal
Vai a São Sebastião
Falando em religião
O nosso povo tem fé
Sempre faz a sua prece
E cedinho tá de pé
Cumpre com a devoção
Pedindo a interseção
Do Patrono São José
Cultivo de mandioca
É tradição do lugar
Lá tem casa de farinha
Para o povo trabalhar
E de inverno a verão
O povo lá faz serão
Pra produção não parar
Sem ter medo de errar
Falo com convicção
Eu ande por onde andar
Em qualquer ocasião
Pra sempre te amarei
E jamais esquecerei
Ó, meu pedaço de chão!
J á andei o meu país
A inda não encontrei
I magem tão fabulosa
L inda assim não registrei
S ublime terra querida
O rigem da minha vida
N o teu solo morrerei.
M aracujá é teu nome
A bençoado torrão
R aiz de um povo ordeiro
Q uerido é o meu chão
U m lugar bem consagrado
E para sempre adorado
S alve São Sebastião!