O SOFRIMENTO DO POBRE (cordel)
Desde o tempo de Adão
Origem do Universo
E junto com o progresso
Veia a civilização
O homem com ambição
Em um modelo formal
Achando tudo normal
Como se nada faltasse
Fez separação de classe
E posição social
Nesse mundo desigual
Uns com tanto outros sem nada
Com a vida estagnada
Mesmo sendo pontual
Num sistema parcial
Dentro da sociedade
Sem ter oportunidade
Lutando pra não morrer
O pobre vive a sofrer
Privado de liberdade
Vive o pobre sem um teto
Sem terra e sem formatura
E ele sem estrutura
Num desespero completo
De sofrimento repleto
É triste a situação
Só Jesus tem compaixão
Daquela vida aguerrida
Amargurada e sofrida
Tamanha é sua aflição
O pobre não tem serviço
Vive sempre no sufoco
Pra receber algum troco
É aquele reboliço
Mora dentro dum cortiço
Um quarto e uma cozinha
A filharada todinha
Sua mulher bem disposta
Na beira de uma encosta
É ali sua casinha
E quando o pobre é solteiro
Que chega pedindo arrego
Consegue enfim um emprego
Trabalhando o ano inteiro
Nem o décimo terceiro
Pode pôr na sua mão
Sendo escravo do patrão
Não tem carteira assinada
Segue na mesma cilada
Só tem farinha e feijão
Quem já passou dos cinquenta
Não tem onde trabalhar
Ninguém quer lhe contratar
E nessa vida azarenta
Bem distante dos sessenta
Aposentar-se não pode
– Socorro! Quem lhe acode?
Vida triste amargurada
Não tem recurso pra nada
E ninguém que se incomode
Quem é do interior
Ou dos confins do sertão
Sem ter nenhuma opção
Só pode ser lavrador
É um herói vencedor
Naquele mundo sofrido
Tem o suor escorrido
Cabra macho, verdadeiro
Trabalhando o ano inteiro
Jamais se dá por vencido
Pra quem lida o ano inteiro
No Sol quente do sertão
Fazendo calo na mão
Na coberta do canteiro
Pra ganhar o seu dinheiro
Escorre o suor do rosto
Descontam dele o imposto
Quando o produto é vendido
Volta pra casa abatido
Lamentando o seu desgosto
O filho do lavrador
Conhece a realidade
Vai embora pra cidade
Tenta a sorte a seu dispor
Abandona o interior
Pensando em ter vaidade
Mas não tem facilidade
Por não conseguir emprego
Sua vida é sem sossego
Faltando oportunidade
O fim do mês é padrão
Sofrendo a mesma agonia
Água, gás e energia
Parece perseguição
Vendo a real inflação
O pobre triste, coitado
Sofredor, amargurado
Lembra-se da internet
Aluguel da kitinet
Vive desorientado
O filho grita: – Papai!...
Compre um brinquedo pra mim!
Ele respondendo assim.
– Ó meu Deus! Me iluminai!
Coitado, não sobressai
Pra seu mal não tem mais freio
O desmantelo tá feio
Não tem um tostão furado
Fica sozinho, isolado
Sofrendo no aperreio.
Pra ter mais complicação
Encontra a mulher deitada
Com a face descorada
Doente de amarelão
E ele nessa aflição
Lamentando o seu destino
Ouve o choro de um menino:
– Papai eu quero comer
Nada pode oferecer!
Só clamar a Deus Divino.
Para não andar a pé
Compra logo um carro velho
No sagrado evangelho
Ele deposita fé
O dinheiro do café
Vai no abastecimento
Pensa no emplacamento
E na carteira vencida
Pra seu mal não tem saída
É triste o constrangimento
Quando é final de semana
Ele pensa em passear
Sua esposa a perguntar
Usando frase bacana
– Você tem alguma grana
Para comprar a mistura?
Coloca as mãos na cintura
Bate um desgosto profundo
Nada é triste nesse mundo
Para uma só criatura.
Na data de aniversário
Ele quer comemorar
Já começa organizar
Olhando pro calendário
Observa seu salário
E nada pode fazer
Vive sem nenhum lazer
No bolso nenhum tostão
É triste a desolação
Que vive o pobre a sofrer
Outro reclama da sorte
E segue os telejornais
Vê projetos sociais
Baseado no esporte
Com ações que lhe conforte
E traga saúde e paz
Mas nada lhe satisfaz
Promessas de melhorias
São apenas teorias
Na prática nada faz
O jovem inteligente
Que luta pra se formar
Para poder estudar
Não basta ser persistente
Para não ser conivente
Com aquele faz de conta
Ele estuda e não apronta
Faz o dever com carinho
Estuda o ano todinho
Sem sofrer nenhuma afronta
Já quem vai ao hospital
Ou num pronto atendimento
Segue o mesmo sofrimento
Como se fora normal
Chega um “todo formal”
Fala com eficiência
– É caso de emergência?
Se não for marque a consulta
E por favor não insulta
Aguarde com paciência
Já o auxílio Brasil
Que é pago no país
De São Paulo a São Luís
Tem um efeito febril
Feito faca em esmeril
Bem ligeirinho afinou
O botijão devorou
Aluguel e energia
Acabou sua alegria
Seu auxílio evaporou
Quando chega a eleição
Mais uma vez é lesado
De prefeito a deputado
Segue a mesma tradição
E com muita educação
E um plano conhecido
Fala até do seu partido
A cada pleito que passa
Sua promessa fracassa
E o pobre desiludido
Já em quem o pobre vota
Com muita satisfação
Promove corrupção
Seguindo a mesma marmota
Com a cara de idiota
Fica o pobre a perguntar
E agora em quem votar?
Vendo não ter mais saída
Fica sofrendo na vida
Só Jesus pode ajudar.
Político de mandato
Propõe-se em ajudar
Bota para trabalhar
E no primeiro contrato
Pratica estelionato
Numa triste pegadinha
Já inclui a “rachadinha”
Nessa prática nojenta
A corda nunca arrebenta
Pra punir a “paradinha”
Mas o pobre tem franqueza
Muita fé e lealdade
Amor e prosperidade
Supera qualquer pobreza
Tem a sua gentileza
Seja qual for à razão
Tem aberto o coração
Para ajudar um amigo
Pra livrá-lo do perigo
Em qualquer situação
Pobre na sociedade
Vive num jardim sem flores
Enaltece seus valores
Por sua capacidade
Com muita dignidade
E base familiar
Por ter o nome a zelar
E muita abnegação
Busca sua formação
Para se qualificar
O pobre com seu humor
Logo constrói amizades
Com suas habilidades
Seu futuro é promissor
Mostra também seu valor
No esporte e na cultura
Valiosa criatura
Vive promovendo a paz
Por tudo aquilo que faz
Demonstra sua bravura