E POR FALAR EM MORTE
Tenho aos botões, perguntado
Qual é o perfil da morte;
Como é seu rosto, seu porte,
D’onde vem, qual seu passado;
Se tem alguém do seu lado
Marido, pais ou parente...
Se vive bem e contente
Com a sua profissão
De escolher um irmão
E tirar do meio da gente.
Quero saber se ela ama
Ou se um dia foi amada;
Tem alma ou é desalmada;
Se sabe lidar com a fama;
Se sente ao menos um grama
De dor quando alguém chora;
Se às vezes ela demora
No cumprir do seu papel
Ou é se é ligeira e cruel
Quando leva alguém embora.
Quais critérios são usados
Por ela nesta escolha;
Se os nomes vêm numa folha
Devidamente anotados,
Ou são por ela listados
Ali no ato, na hora;
Se considera quem chora,
Ou é movida a frieza,
Menoscabo, malvadeza...
Se a cada um comemora.
Será que ela considera
Cor ou classe social;
O mais amável e legal
Ou quem somente é megera;
Será que ela espera
O sujeito se arrumar,
Tomar banho, se perfumar
Ou tanto faz, tanto fez
Quando é chegada a vez
Ela trata de o levar.
Será que ela tem dado
A alguém prioridade;
Levando em conta a idade
Do mais fraco e adoentado;
Ou leva o mais amostrado
Que vive de aventura
Sem se importar com altura,
Se é raso ou se é profundo
Que bate mundo e fundo
Numa vida de loucura.
Será que há um jeitinho
De enganar a insana
Com uma conversa bacana
‘pé de ouvido’, bem baixinho...
Se ela aceita um dinheirinho
Pra quando pegar a lista
E nela passar a vista
E ao ver o nome ‘fulano’
Trocar pelo de ‘beltrano’
O maior ‘felaputista’.
Ou será que ela é honesta
E odeia corrupção;
Que cumpre a sua função
Sem ver quem presta ou não presta;
Que aquilo que lhe resta
É ser exata e mais nada.
E que na hora marcada
Leva sem olhar a quem
Rico ou sem nenhum vintém
Para a eterna morada.
Benildo Nery
Um poeta de Montanhas,
Em 1 de março (de pandemia) do ano 2021.