ATAQUE DE ANTONIO SILVINO À CHÃ DE AREIA DO PILAR

O meu avô me contou

O que foi que aconteceu

No Sítio Chã de Areia

Em uma noite de breu,

Ele fugiu para o mato

Ligeiro feito um preá,

Levando a sua família

Pra que pudesse escapar

Das balas riscando o céu,

Dum grupo má de assassinos

Dum tal de Antonio Silvino

Fazendo o seu escarcéu!

Seu bando de cangaceiros

Chegara na Chã de Areia

Fingindo querer bebida

E comida pr'uma ceia,

Já era de noite e o povo

Daquele sítio dormia,

Pra venda de Né Diogo

O bando se dirigia,

E os cangaceiros chamaram,

Mas ninguém lhes atendia;

Seu Né Diogo, calado,

A porta não lhes abria,

Foi quando cravaram balas

Na venda, naquele dia!

Choveram balas na casa

Por todo lugar, espaço,

Meteram balas pra cima,

Meteram balas pra baixo,

Pois no punhal e na bala

É que reinava o cangaço!

E ali Antonio Silvino

Proliferava o terror,

Foi no tempo de eu menino

Que me contou meu avô,

Que por onde eles passavam

Causavam muito temor,

E na nossa Chã de Areia,

Querendo bebida e ceia,

Causaram muito pavor!

A venda de Né Diogo

Ficava próximo ao Grupo,

Ali Antonio Silvino

Com fama de homem bruto,

Fingindo comprar comida

Queria fazer o seu furto,

E se o pobre Né Diogo

Ao Cangaceiro enfrentasse,

Se contra aquela investida

El' sozinho revidasse,

Tomando mão de um trabuco,

Ou mesmo duma espingarda,

A pobre família, coitada,

Ficava era de luto!!

Em toda Chã de Areia

O sono o povo perdeu,

Formara um grande alvoroço,

Um "nos acuda, meu Deus!"

Os tiros fortes zuniam,

Ecoando pelo mundo,

Deixando a terra pacata

Num desespero profundo,

Foi quando Seu Né escapou

Com medo de bala e faca,

Abrindo a porta dos fundos

E se embrenhando na mata!

Fugira Seu Né Diogo,

Deixando pra trás a venda,

Levando a sua família

Com medo da reprimenda,

Escapando do cangaço,

Da violência na senda,

Escondendo-se no mato,

Por onde achasse uma fenda,

Pra proteger sua prole

Numa gruta fez sua tenda,

No meio de um matagal

Duma vizinha fazenda,

Ficou ali vigiando

Bem longe daquele bando

Que era real e não lenda!

Assim Antonio Silvino

Marcou a sua passagem

Por nossa Chã de Areia

Com aquele bando selvagem,

Fingindo querer u'a ceia,

Fazendo a sua abordagem

Na venda de Né Diogo

Buscando levar vantagem,

Não só feijão com farinha,

Carne de sol, bacalhau,

Também sua economia

Pra depois sumir no vau,

Quem sabe para Serrinha,

Por dentro do matagal,

Deixando a nossa terrinha

Nervosa, passando mal!

O meu avô me contou

Que muitos dos fazendeiros

Se precavendo de assaltos,

Dos bandos de cangaceiros,

Passaram a enterrar

Seus tesouros, seus dinheiros,

Dentro de potes, de latas,

No quintal, ou no terreiro,

Assim surgiram as botijas

No Nordeste brasileiro.

Foi meu avô que contou

Quando eu era inda menino,

O que foi que se passou

Neste torrão nordestino,

Do ataque à Chã de Areia

Dum bando feroz, malino,

Dum grupo de cangaceiros

Cruzando nosso destino,

Na venda de Né Diogo,

Homem pacato e franzino,

Que rogou a proteção

Do nosso Jesus divino

Para livrar sua família

Das mãos de Antonio Silvino!

© Antonio Costta

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