FILISMINA, O LEGADO (Cordel finalizado)

O cordel está no sangue

A escrita, uma herança

Criatividade, desenvoltura

Grafar o rebento com confiança

Bisa Filismina, o legado, cordelizar

Dom arraigado; fez da vida, uma estança.

A minha vó Filismina

Com birros fazia renda

Eu doida pra aprender

Mas, era muito pequena

Deixei o tempo passar

E hoje eu digo: que pena!

Vô Filismina casou

Com meu avô Cipriano

Construíram uma família

Juntos por alguns anos

Mais uma fatalidade

Acabou com os seu planos.

Ela ficou viúva

Com os filhos pra cuidar

Mais conheceu vô Tito

Começaram a namorar

Depois de se conhecerem

Resolveram se casar.

As duas famílias juntas

Foram unidos trabalhar

Lutando todos os dias

Para os filhos alimentar

Eram pessoas humildes

Mas o pão não ia faltar.

Vó Filismina partiu

Foi morar no Juazeiro

Junto com vô Tito

Que era bom sapateiro

Deixaram muitas saudades

Ainda lembro seus cheiros.

A terra do Padre Cícero

Ela nunca esqueceu

Os seus últimos dias

Foi lá que ela viveu

Na Perpétuo Socorro

Descansam os restos seus.

No túmulo dos Alexandres

Seu oratório guardado

Quando vou visitar

Fico de olho vidrado

Queria que aquela relíquia

Ficasse ao meu lado.

Foram tantos que partiram

Começo lembrar agora

Pessoas muito queridas

Que a saudade aflora

Um dia nos encontraremos

Hoje meus olhos choram.

É isso ai família

Que eu venho contar

São pequenas lembranças

Que eu venho recordar

Pra ficar em nossas vidas

E o nosso passado avivar.

Vivendo a quarentena

Resolvi escrever

Usando os dons de Deus

Não posso esconder

Histórias dos entes queridos

Vale a pena reviver.

Veja a grande verdade

Que agora vou falar

Genética não é só aparência

Beleza admirar

Ela faz parte da essência

Sobre isso vou narrar.

Quando fico a ouvir

Sobre a minha bisavó

Eu passo a entender

O que antes era nó

Essa paixão pelo cordel

E feliz, não estou só.

Minha infância foi ouvir

Mainha a declamar

Maravilhosos versos

Fez eu me apaixonar

E descobri, aquele dom

Tinha que continuar.

Sou filha de Iolanda Gomes

Bisneta de Felismina

A herança do cordel

Nesse elo, dissemina

E se depender de nós

Ela aqui não termina.

Amante da poesia

Do cordel, defensora

Da cultura popular

Eu serei propagadora

O sertão é minha morada

Nordestina sonhadora.

A morada uma só

Pelas veias corre o sertão

Nascidos do mesmo amor

Partilhamos o mesmo pão

De Filismina o versar herdado

Nossa escrita, comunhão.

Eliana da Silva Gomes, Iolanda Gomes e Iara Cordelista
Enviado por Eliana da Silva Gomes em 10/07/2020
Reeditado em 10/07/2020
Código do texto: T7001975
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