PROTAGONISTA NEGRA
Minha gente dê licença
Pra um dedinho de prosa.
Falarei da pertencença
Dessa negra poderosa.
Pois com toda diferença
Não quero ser a entrosa.
Contarei minha história
Narrando com devoção.
Deixar aqui em memória
À futura geração.
Pra combater a escória
Só a protagonização.
Uma filha miriense
Cresceu na periferia.
Que em berço paraense
Se formou com honraria
Cidadã brasiliense
Cultura exaltaria.
Desde a adolescência
Passei aos pais, ajudar.
Das vendas tomei gerência
Nas ruas sem chafurdar.
Queria boa vivência
A família escudar.
Tornei - me a professora
De alfabetização.
Como grande protetora
Ministrei educação.
Quis casar e ser pastora
Mas faltou a vocação.
Na resenha escolar
Comecei me envolver.
Sem mesmo protocolar
Práticas absorver.
Textos pra aureolar
O saber desenvolver.
Nos cadernos das amigas
Deixei os meus pensamentos.
Trabalhei como formigas
Organizando argumentos.
Todas palavras bendigas.
Era só experimentos.
Tentei um vestibular
Mas não pode concluir.
Pois a sorte secular
Iria reconstruir.
Amapá confabular
Registar, evoluir.
Aqui prestei um concurso
E nesse fui aprovada.
Meu pai fez logo discurso
Minha mãe apavorada.
Rogava por meu percurso
Na vida encaminhada.
Em Mazagão, fui lotada
Ponte do Breu, a escola.
Ao rural fui enviada
De mochila, caçarola
A mente abarrotada
Navegando na marola.
Ali então começou
Uma nova trajetória.
Minha mão encabeçou
O registro da memória.
Meu foco endereçou
Ao negro dedicatória.
Nesse chão conjuntural
Pôde então perceber.
O contexto cultural
Precisei reconhecer
Sem um rol estrutural
Como na fonte beber?
Eu fiz da rima meu remo
Da história, congado.
Com ajuda do Supremo
Foi tudo interligado.
Com poema ao extremo
Fato, foi catalogado.
Poetisa me tornei
Pra combater preconceitos.
Palavras que adornei
Revelam os meus preceitos.
Das cinzas eu retornei
Não abro mão dos direitos.
A mulher protagonista
Na escrita feminina.
Traz o traço humanista
A rima não discrimina.
Lei segregacionista
Mente sã, não contamina.
Esse empoderamento
Ganhou um nome artístico.
Negra Aurea, comento:
Um nome apriorístico
Traz sempre embasamento
De um ideal holístico.
A arte é dialética
É uma diversidade.
Tendo a base eclética
Na subjetividade.
Tece linguagem poética
De grande alteridade.
Amante da poesia
Eu gosto de declamar.
Poema é cortesia
O belo esparramar!
É pura sinestesia
Os versos eu aclamar.
Agora apaixonei
No versão de um cordel.
Juro, adicionei
E trago no meu fardel.
Já que emocionei
Eu faço até Rondel.
A tão bela natureza
Me fez uma cordelistas.
Me concebeu a pureza
De ser toda realista.
Negra de pura beleza
Afro, especialista.
Negra Aurea: 27/06/2020 as 12h