FARRA DE BOI NOS ANOS SESSENTA BAIRRO SERTÃOZINHO BARRA VELHA SC
POR PEDRO JOÃO PEREIRA
( PEDRAO CORDELISTA )
Domingo no sertãozinho
Ia ter uma festa rara
O povo ja aguardava
A festa do boi na vara
Mas soltaram o enorme boi
E ninguém sabe quem foi
Pois ninguém mostrou a cara
Uns dizem que foi o Hilário
Outros que foi o João Vicente
O Lete ou o Zé Ormino
Nego Vevete ou Clemente
Dizem até que foi o Dorico
O Luiz polaco ou Vico
Todos se dizem inocente
Esse touro era uma fera
Quando se viu perseguido
Saiu atacando tudo
Um demônio enfurecido
Atacou até o trator
Que era do Paulo flor
Pegaram dele escondido
A coisa ficou mais feia
Ninguém saia pra fora
O povo do sertãozinho
Orava a nossa senhora
Paulo Borges foi chamado
Em seu cavalo arreado
E Laçou o touro caipora
A noite no João Raulino
Começou a confusão
Acusaram os paraguaios
O Nico o Vicente e o João
Os três vieram no pano
Saber do Dedé Baiano
Quem fez tal acusação
João Raulino intercedeu
E a briga ele apartou
No entanto no domingo
A discussão continuou
Aproveitando a confusão
Tonho Paulo abriu o portão
E o touro velho escapou
Enquanto isso no campo
A contenda continuava
Todos armados de faca
Senti que a morte rondava
De repente um mugido
Era o boi que havia fugido
Para o campo enveredava
Era só gente correndo
E gritando por socorro
Madruga foi pra figueira
O Roso correu pro morro
E subiu num sassafrás
O dórico olhou para traz
E tropeçou num cachorro
Dorico bom na corrida
Conseguiu se escapar
Mas o bicho estava solto
Ninguém podia bobear
Aí arrumaram uma farda
O Marçal ficou de guarda
Para o povo a trabalhar
Seu Gonzaga vendia peixe
O Heitor pescava tainha
Seu Arnoldo fazia tijolo
E o Zezé fazia farinha
O Alvim raspava mandioca
O Vino fazia tapioca
Enquanto a fera não vinha
A semana passou assim
Céu azul e muito sol
Ninguém lembrava do touro
Só falavam em futebol
Seu Alcebides o treinador
Um esportista amador
Que adorava uma skol
Era um solteiro x casado
Da turma aqui do sertão
Casados. o Dico e o Vardo
O Lourenço, Nino, e adão,
O Dórico, Neco, e Agenor,
O Cido, Acassio, e Amazor,
Mais o Bento Formigão
Embebedaram o Marçal
E abriram o alambrado
Quando escutaram um berro
Era o touro mal encarado
Trazia o bafo da morte
Pegou o Cassiano forte
Jogou fora do alambrado
Depois de umas cachaças
Ouve grande reunião
Seu Epifânio Inácio
Líder aqui da região
Mandou prender o animal
E esconder no curral
Com água fresca e ração
Começava a preparação
Pra amarrar o boi na vara
Apareceu o Neri e o Dirce
Também o Nilton da Mara
Junto com o Miguel ataca
E fincaram como estaca
Um grande pé de Inhuçara
Ia começar a festa
Estava tudo preparado
Foram la buscar o touro
Que estava bem vigiado
Apareceram as beldades
Para ver a crueldade
O palco estava montado
Os brotinhos iam chegando
Em seus vestidos tubinho
Mascando cravo ou chicletes
Expondo o belo corpinho
Algumas de saia godê
Cabelos preso ao laquê
E no pescoço o lencinho
Sentados em volta do campo
Os moços faziam a escolta
As gatinhas assanhadas
Ficavam ali na revolta
Quando a corda esticava
O pobre animal berrava
E era puxado de volta
O velho Alfredinho Borba
Os convidados recebia
O Fifita e os Casagrande
O Tibério e o André Maria
O Bernardo e o Higino
O João Gonzaga e o Sabino
O Tiago e o Elói Garcia
E tomando umas cachaças
Estava o Nardo e Valdemar
O Fernando e o Atanásio
Já começavam a cantar
Pedro Florêncio e o Dino
Zé Anacleto e o Ervino
Que acabavam de chegar
Embaixo do pé da figueira
O Lui Hesse e o Orimar
Junto com o Amauri
Não paravam de tocar
O Ambrósio no pandeiro
Junto com um violeiro
Que apareceu no lugar
Brincaram até anoitecer
O boi estava extenuado
Chegou o Dico policia
Junto com um delegado
Acabaram com a farra
Livraram o boi das amarras
Estava tudo encerrado
E aqui vai o meu pedido
A Cristo nosso senhor
Para acabar com as brigas
Devolver a paz e o amor
Também salvar os animais
Que já sofreram demais
Toda humilhação e dor
Só uma coisa continua
Sem previsão de acabar
É a revolta que ficou
E ódio que está no ar
Entre Dedé e o paraguaio
Como gatos num balaio
Um dia vão se arranhar