CONFISSÃO DE UM CORAÇÃO DESILUDIDO

Pra mim, disse um coração:

- Preciso lhe confessar

Por favor, dê-me atenção

Muito tenho a lhe falar

Eu estou muito cansado.

Amar e não ser amado

Isso me fez magoar.

Pro coração respondi:

- Não se aperreie amigão!

O que sofreste, eu sofri

Ante uma desilusão.

Muito amei, não fui amado.

Eu sou conto dum passado

Por conta duma paixão.

- Já chega de bofetada!

Coração Já me falou.

- Aquela lição passada

Muita coisa me ensinou

Importa venha sofrer

Não quero mais me envolver

E o que passou, passou.

- Paixão não mata ninguém!

Retruquei-lhe bem assim.

Mesmo que fique refém

Ainda não é o fim.

Para tudo nessa vida

Sempre tem uma saída

Para não ou para sim.

Coração continuava

Com o seu dito sermão

Eu somente lhe escutava

Com toda minha atenção

Atento pro seu queixume

Melodioso de ciúme

Parecia ter razão.

Mais uma vez eu lhe disse:

- Não fique tristonho não

Porque tudo isso é tolice

Sofrer por uma paixão

E ninguém é de ninguém

Amor vai e amor vem.

Aí está a questão!

- Preciso logo encontrar,

Dizendo-me o coração

- Um jeito de bloquear

Cá de mim essa paixão

Quanto mais desvio dela

Bem acolá está ela

Igual a um bicho-papão.

- Tenho que atento ficar!

O coração me alertou

- Nenhum dia é pra eu estar

Assim, como hoje eu estou

E qualquer descuido meu

Culpado sempre sou eu

Pois assim se revelou.

- Ouvindo o que me disseste

Calado, então, eu fiquei

No amor, bem não lhe fizeste

foi o que eu imaginei

Outrora recordações

Mexeram nas emoções

Tal mensagem captei.

Eu vi nesse coração

Uma tristeza danada

Ao falar de uma paixão

Com uma voz embargada

Notei que alguém o amava

Por si mesmo se entregava

Na sua fala angustiada.

- Vi a preocupação

Coração disse-me assim

- Talvez seja essa paixão

Que ainda ofusca em mim

Preciso ser ajudado

Para esquecer o passado

Que quase me fez doidim.

Minha história de amor

Para você eu vou contar

Em nada quero lhe impor

Para você me escutar

Aliás, chegou a hora

O momento é esse agora

Não posso mais adiar.

- Estou pronto pra lhe ouvir

Não tenha vergonha não

Comigo pode se abrir

Bote pra fora a aflição

Vai lhe fazer muito bem

Melhor que ficar refém

De um outro coração.

- É isso que eu vou fazer

Respondeu-me o coração

- Eu não quero mais sofrer

Calado na multidão

Vou seguir o meu caminho

Embora eu vá tão sozinho

Porém, não me importa não!

Coração desabafava

Duma certa penação

De tal modo despertava

A sua insatisfação

E pra ele até jurou

Amar a quem ele amou

Nunca mais amava não.

Eu tão somente lhe ouvia

E com todo o meu carinho

Simplesmente ele seguia

Narrando o seu remoinho

A lágrima no seu rosto

Era a prova do desgosto

Caindo devagarinho.

O coração desbulhava

Aquela sua história

Assim a voz tropeçava

Ao falar da trajetória

Das tristezas e alegrias

Das canções e melodias

Tão recentes na memória.

Indagou-me o coração

- Parece está aborrecido?

Ouvir tanta apelação

Bem ao pé do seu ouvido?

Se não tiver mais disposto

De não querer ver meu rosto

Termino aqui o alarido.

- Não se preocupe amigo

Em mim nada tá intervindo.

Faria o mesmo comigo

Eu lhe respondi sorrindo.

Mas pode continuar

Que eu estou a apreciar

Seu conto será bem-vindo.

- Sendo assim vamos em frente

Conforme tal permissão

Eu fico muito contente

Por sua compreensão

Também sua paciência

Sou grato à Vossa Excelência

Por me ouvir com atenção.

Não é fácil para mim

Falar do meu sentimento

Mas consciente estou sim

Relatar-lhe o meu tormento

A alguém fui correspondente

Amei verdadeiramente

Só recebi fingimento.

Eu tenho que suportar

Nesse momento ser forte

Nem que tenha de enfrentar

A minha senhora morte

Em frente tenho que ir

Não quero mais me iludir

entrego-me à própria sorte.

Eu quero só desejar

É muita felicidade

A quem só me fez chorar

Deixando-me na saudade

Deixa o tempo resolver

Quem sabe ainda vou ter

Aquele amor de verdade.

Às vezes me questiono

Porque, motivo e razão?

Sentido desse abandono

Sem qualquer explicação

O meu questionamento

Só me trouxe sofrimento

E nenhuma solução.

Aliás, não é o fim

E nem tudo está perdido

Tudo agora é festim

Chega desse meu sofrido

Viver o que não vivi

Eu ainda não morri

Mesmo de peito-ferido.

Fiz de tudo por amor

Mas, não fui correspondido

Suportei a minha dor

Ocultando meu gemido

Lágrimas, pois, derramei

Tantas vezes enxuguei

O meu pranto em alarido.

Eu vou tratar de esquecer

Esse pedaço ruim

Vou procurar e manter

Mas bem distante de mim

Vai ter que dar tudo certo

Eu quero ficar liberto

Porque eu estou a fim.

Eu não quero ser escravo

Dum amor a vida inteira

Que para mim é um agravo

De toda e qualquer maneira

Quero ter a liberdade

Resgatar a mocidade

Duma vida verdadeira.

Foi nesse exato momento

Quando eu lhe interrompia

Ante o seu depoimento

Tal pergunta eu lhe fazia

O porquê somente agora

Ele botava pra fora

Aquela sua agonia?

O meu questionamento

Pareceu lhe incomodar

E olhou-me bem atento

Nada querendo falar

Mas disse-me bem assim

Faltou coragem em mim

Para poder me expressar.

E completou o coração:

- Você me entendeu agora

Porque, motivo e razão

De minha longa demora?

Precisava achar alguém

De confiança também

Para ouvir meu bota-fora.

Você foi meu preferido

Tenha minha gratidão

Fico-lhe muito devido

Por sua nobre atenção

Se não fosse por você

Não teria o dossiê

Nem a minha confissão.

Fim.

Francisco Luiz Mendes
Enviado por Francisco Luiz Mendes em 03/12/2019
Código do texto: T6810302
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.