Alma negra
Seu Padre eu tenho alma também
Tiraram-me do cativeiro
Boas lembranças tenho de minha terra natal
Colocaram-me no navio negreiro
Rumo a capital
Seu Padre
Lá debulhavam nossas almas
Incendiaram nossas esperanças
Oramos, oramos... Ninguém nos ouviu
Quantos se mataram
Quantos morreram
Nos porões do navio
No balanço
Vai e vem
Eramos colonizados
Fomos “educados”
Pela tua cultura
Perdíamos pouco a pouco
Nossa história
O meu povo perdeu a glória
Que um dia construiu
Seu Padre
A fome matava um por um
A peste matava dois por vez
Não tenho medo do inferno
Já estive lá, posso voltar novamente.
Seu Padre,
o que passava na mente
Que torturavam nossa gente?
O navio parou
Mas nosso medo não cessou
Fomos detidos,
Unidos caminhávamos
Nos leiloaram
Os brancos nos compraram
Éramos carne barata naquele mercado
Trabalhamos Padre, nós trabalhamos.
Por trezentos anos
Eu esqueci minha religião
Meu orixá virou santo
Meu pai de santo se escondeu
Virei cristão
E hoje seu deus é o meu.
Veio a dita redenção
Após a humilhação
Nos libertaram da prisão
Seu Padre, eu tenho alma também
Me tiraram da senzala
Me botaram na favela
Sem ter pena de ninguém
Os meus morreram
O seu sangue escorre
É tinta
Na túnica de certo alguém
Seu Padre
Meu Deus...
A culpa é de quem?