Alma negra

Seu Padre eu tenho alma também

Tiraram-me do cativeiro

Boas lembranças tenho de minha terra natal

Colocaram-me no navio negreiro

Rumo a capital

Seu Padre

Lá debulhavam nossas almas

Incendiaram nossas esperanças

Oramos, oramos... Ninguém nos ouviu

Quantos se mataram

Quantos morreram

Nos porões do navio

No balanço

Vai e vem

Eramos colonizados

Fomos “educados”

Pela tua cultura

Perdíamos pouco a pouco

Nossa história

O meu povo perdeu a glória

Que um dia construiu

Seu Padre

A fome matava um por um

A peste matava dois por vez

Não tenho medo do inferno

Já estive lá, posso voltar novamente.

Seu Padre,

o que passava na mente

Que torturavam nossa gente?

O navio parou

Mas nosso medo não cessou

Fomos detidos,

Unidos caminhávamos

Nos leiloaram

Os brancos nos compraram

Éramos carne barata naquele mercado

Trabalhamos Padre, nós trabalhamos.

Por trezentos anos

Eu esqueci minha religião

Meu orixá virou santo

Meu pai de santo se escondeu

Virei cristão

E hoje seu deus é o meu.

Veio a dita redenção

Após a humilhação

Nos libertaram da prisão

Seu Padre, eu tenho alma também

Me tiraram da senzala

Me botaram na favela

Sem ter pena de ninguém

Os meus morreram

O seu sangue escorre

É tinta

Na túnica de certo alguém

Seu Padre

Meu Deus...

A culpa é de quem?

Menino do Chapéu
Enviado por Menino do Chapéu em 27/11/2019
Reeditado em 27/11/2019
Código do texto: T6805188
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