No lugar aonde moro
No lugar onde moro.
No lugar adonde moro
Um pé de pereira tem
Quando é às nove hora
Só ele que sabe bem
O que se passa por lá
Mas não conta pra ninguém.
É que no dia de lua
E quando é lua cheia
O clarear no pereira
Mesmo de noite encandeia
E começa a chegar gente
Como se fosse uma aldeia.
Senta um pai de família
A bunda lisa no chão
A mulher senta de lado
Do lado do coração
Também tem rapazeada
Pra completar a questão.
Como rebanho de ovelha
As moças chegam ligeiro
Nessas horas já faz tempo
Cus galos tão no poleiro
Somente cão e raposa
Se avistam pelo terreiro.
Aí a rapazeada
Começa logo a piscar
O ôi isquerdo pra moça
Querendo lhe paquerar
E o pai dessa donzela
Começa desconfiar.
Um deles que quase é
O mais velho do lugar
Fica contando anedota
Pros outros graça achar
Piadas e o Trancoso
São os melhores que há.
Como é perto das casa
Alguém traz logo o café
Tapioca e carne assada
Num currimboque o rapé
Pra não ficar espirrando
Do frio tanto que é.
A lua que vai subindo
Na terra deixa o clarão
E o Pereira ouvindo
Cada adivinhação
Perguntada e respondida
Por todo mundo no chão.
Lá pras 11, 11 e meia
Começam se levantar
Quem foi esperto tirou
Alguém para namorar
Os molengas, infelizmente,
Só fizeram paquerar.
Quando é a meia noite
O Pereira fica só
As raposas passeando,
Os preás e os mocó
A mariposa voando
No vento fazendo nó.
De madrugada o vento
Afina e fica gelado
A lua a pardejar
Deixa o Pereira assustado
Com um pouco de escuridão
Dá pra ficar assombrado.
Pois nessas hora aparece,
Não sei se devo falar
Um bicho feito de homem
Aqui mesmo do lugar
Só pode ser lobisomem
Que vive a perambular.
Somente o Pereira sabe
Qual que o bicho que é
Mas certamente sabemos
Nem é homem, nem mulher
Vão perguntar ao Pereira
Se descobrirem quiser.
O lugar aonde moro tem lobisomem.
Professor Carlos Jaime.