Medo de Onça
I
Eu saí de lá de casa,
Num dia de São João,
Para esperar uma onça
Na fazenda Boqueirão.
Lá na cacimba dos bichos
Só não bebia leão.
II
Assubi numa aroeira
Para a fera tocaiar;
Entre seis e sete horas
Escutei ela esturrar.
E depressa, sem demora,
Comecei a me assombrar.
III
Cada esturro que ela dava
Fazia tremer o chão;
Paralisado de medo
Foi bem grande a exclamação;
Quase que mijei nas calças
Com medo de assombração.
IV
Onça é bicho muito esperto:
Ela não apareceu;
Pressentiu ou escutou
Algum galho que mexeu;
Ou farejou a presença
Do bobão que nem correu.
V
Fiquei a noite todinha
Sem coragem de descer
Do poleiro que eu subi
E rezei pra ela não ver.
Quando amanheceu o dia
Tratei logo de correr.
VI
Fui embora para casa
Assustado, com pavor;
E não tive mais coragem
De fingir ser caçador;
Não fui mais atrás de onça
Nem para fazer favor.
VII
Mas felizmente arranjamos
Uma simples solução:
Espantamos essa fera
Com bombinhas de São João;
Ela fugiu para as serras
E deixou o Boqueirão.
***
As duas primeiras estrofes são da autoria de Zé Manel. As demais são de Ritemar Pereira, conforme a história contada por tio Zé. (Pio IX, 26/7/2019).