Personagem esquecida
Minha lembrança vagueia,
caminhando no pilhôes,
diz que passei dos grilos,
aponta o córrego da caçada,
onde eu vivi no grotão.
Cresci no tempo, e no mato,
sei que morei no sertão,
Carreguei lenha nas costas,
pisando a erva daninha,
há, eu capinei a roça,
empurrei a carpideira,
plantei milho, mandioca,
cortei o arroz no cacho,
colhi a espiga no talo,
segurei cutelo, machado,
torrei a farinha no tacho.
Catei o grão da semente,
que a maquina, deixou na terra,
levei merenda aos peões,
atravessei matas, enfrentei feras,
desci morros, subi serras,
atravessei pontes,
equilibrei na pinguela,
sou personagem esquecida,
meu filme, não teve tela!
Cresci em luta com a vida,
escorreguei na banguela,
levei tombo na eira,
não foi culpa do destino,
se a noite não foi bela,
morri pros sonhos do mundo,
mas ganhei a vida eterna!
Carreguei a cruz com cristo,
pra Deus tive alma mais bela,
não ajuntei tesouros, mas
ganhei a vida eterna.