Fome de amor

No deserto que há na alma

De qualquer competidor

Há um sal que lhe acalma

Diminui a sua dor

Sempre traz alguma calma

Pro carente de amor.

Esse deserto ignoto

Faz a sombra caminhar

Faz o destro ser canhoto

Faz o céu modificar

Faz o vivo ver o morto

Na caverna a meditar.

Faz o monge paciente

Sem pensar, esbravejar,

Faz o jovem inconsciente

Estar sempre a conversar

Faz o velho impaciente

Da memória reclamar.

Muitos têm o seu deserto

Mas não sabe que ele existe

Diz que Deus está por perto

Entretanto não resiste

A dizer ser o mais certo

Colocando o dedo em riste.

Faz do sol o seu carrasco

Ignora o esplendor

Faz da vida o seu fiasco

Não tem paz e nem calor

Quando fala causa asco

Ao mais fino servidor.

Sua casa no deserto

É a folha da palmeira

Que deixa o sinal aberto

Pra viagem costumeira

Mostra o caminho certo

Pra caravana estradeira.

A caravana estradeira

Tem também o seu deserto

Ela segue a costumeira

Rota que sempre deu certo

Mas um dia dá bobeira

E perde o caminho aberto.

No deserto há uma ilha

Que se vai pra descansar

La está uma família

Sempre pronta a esperar

La ninguém monta quadrilha

Pro caminhante assaltar.

Essa ilha no deserto

Não é foco de discórdia

Em geral quem está perto

Pede para haver concórdia

E quem tem o peito aberto

Vai ganhar misericórdia.

Se alguém perder a vez

De na ilha descansar

Do sofrer será freguês

Sem direito a reclamar

Pois foi sua estupidez

Que o fez descaminhar.

Essa ilha não tem dono

Não tem chefe ou portaria

O porteiro é o mordomo

Que arruma a prataria

Não se fala em abandono

Não se ouve gritaria.

Não há chefe na cozinha

Cada um come o que quer

A mulher anda sozinha

Com a roupa que tiver

Todos têm sua casinha

Pra viver como quiser.

Há um frasco sobre a mesa

Que uns poucos reconhecem

Não pertence à realeza

Que a si mesma desconhece

Ele mostra uma beleza

Que o deserto desconhece.

Esse frasco de virtude

É chamado de oferenda

É a fonte da saúde

É perfeito e sem emenda

Suas cores amiúde

Dão sabor para a merenda.

Não se chama testemunha

Não há véu pra se esconder

La não há nome ou alcunha

Nem chamado a responder

La ninguém vai roer unha

Por medo de perecer.

Essa ilha não tem nome

É chamada coração

Ela sempre sente fome

Mas jamais aceita um pão

Só uma coisa ela come

Com total satisfação.

Esse alimento estranho

Que pra uns não tem valor

Não é trocado por ganho

Não se acha vendedor

Não tem cor e nem tamanho

Mas tem um nome – AMOR.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 19/05/2019
Reeditado em 19/05/2019
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