Acorrentados

Somos os presidiários

Na corrente do destino

Não importa ter no armário

Mil diplomas de ensino

Cada um tem seu calvário

Que é seu desde menino.

Somos partes do sistema

Que agindo em profusão

Tenta inventar esquema

Para ter compensação

Depois enfrenta o dilema

Aceitou corrupção.

Dentro do pequeno espaço

Muitos danos são tramados

Em geral se dando abraço

Em quem não dá passo errado

Pra tentar pô-lo no laço

E ficar sempre amarrado.

Muitos elos da corrente

São mantidos no escuro

Pelos atos do presente

Fruto do passado impuro

Pensamos ser inocentes

Acusados de perjúrio.

Esquecidos do passado

Não pensamos no futuro

Não temos também cuidado

Da vida não cobrar juros

Já chegamos endividados

Caminhando no escuro.

Dependemos da cultura

Que herdamos na família

Um pouco da conjuntura

Que nos põe em armadilha

Queremos ir pras alturas

Caminhando em reta trilha.

Na subida da escada

Muitos passos são perdidos

Vão atrasando a jornada

Frustrando nossos pedidos

No final da caminhada

Vemos os maus entendidos.

Nos elos dessa corrente

Amarramos os disparates

Que fazemos quase sempre

Por sermos meros descartes

Entretanto somos crentes

Que não teremos apartes.

Não pensamos que na lida

Somos sempre descartáveis

Dedicamos a nossa vida

A coisas não confiáveis

Ao final, no fim da vida,

Passamos por detestáveis.

Escolhemos a companhia

Pra tentar viver a vida

Mas quebramos a harmonia

Maltratando a escolhida

Damos pro seu dia a dia

A dor que fica escondida.

Damos para os nossos pais

As dores do abandono

Deles não queremos mais

Saber se gozam bom sono

Só queremos o que nos trás

Sempre um vantajoso abono.

Desejamos sempre mais

Sem pensar que pouco basta

Pensamos que bem nos faz

Fazer parte de uma casta

Sempre tiramos a paz

Dos que de nos não se afasta.

Prometemos aos nossos filhos

Ser o pai que não tivemos

É comum o estribilho

Desse pão não comeremos

Mas também é falso brilho

Porque brilho nos não temos.

Pelos tratos que fizemos

Muitas vezes sem querer

Muitas falhas cometemos

Sem delas tirar prazer

No final comprometemos

O fim do nosso viver.

Alguns meses demoramos

Pra sair de uma corrente

Entretanto, se falamos,

Somos disso inconscientes

E somos durante anos

Dos nossos pais dependentes.

Temos desejos impuros

Muitas falhas a esconder

Temos medo do escuro

Nada podemos prever

E se no lodo mergulho

Em geral tento esconder.

Vamos ser acorrentados

Até o final da vida

Ou até ser elevado

Para o alto da subida

Pra la não vai celerado

Só vai gente esclarecida.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 04/05/2019
Reeditado em 04/05/2019
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